Diagnóstico de Doenças Hepáticas - Hepatites virais.

A avaliação da função do fígado é feita através da mensuração de marcadores hepáticos séricos de forma direta ou indireta, que são normalmente produzidos e ou excretados pelo órgão

  • Bilirrubina
  • Ácidos Biliares
  • Amônia
  • Ureia
  • Albumina
  • Globulinas
  • Glicose
  • Colesterol

Fatores de coagulação

Perfil Hepático

O perfil hepático, também conhecido como testes de função hepática, é usado para detectar, avaliar e acompanhar doenças hepáticas ou lesões hepáticas. Geralmente é composto por sete testes realizados ao mesmo tempo com uma amostra de sangue:

  •  Alanina aminotransferase (ALT ou TGP) – Enzima encontrada principalmente no fígado. É o melhor teste para detectar hepatite.
  •  Fosfatase alcalina – Enzima relacionada com os ductos biliares. Com frequência, está aumentada quando há obstrução desses ductos.
  •  Aspartato aminotransferase (AST ou TGO) – Enzima encontrada no fígado e em alguns locais, particularmente no coração e outros músculos do organismo.
  •  Bilirrubinas total e direta – Há dois testes para bilirrubina frequentemente usados em conjunto (especialmente se o indivíduo apresenta icterícia): a bilirrubina total mede toda a bilirrubina no sangue; a bilirrubina direta mede a forma que é conjugada (combinada a outro composto) no fígado.
  •  Albumina – Mede a principal proteína sintetizada pelo fígado e revela se ele está ou não sintetizando uma quantidade normal dessa proteína.
  •  Proteínas totais – Mede, além da albumina, todas as demais proteínas do sangue, incluindo anticorpos produzidos para auxiliar no combate às infecções.

Outros testes que podem ser solicitados junto com o perfil hepático são gama-glutamil transferase (GGT) – É uma enzima produzida pelo fígado, pelo pâncreas e pelos rins e que é liberada na corrente sangüínea quando esses órgãos estão sendo danificados. Serve para se saber se existe alguma lesão orgânica, intoxicação por drogas e ou medicamentos, abuso de álcool ou doenças do pâncreas., desidrogenase láctica (DHL), e tempo de protrombina (TP).

Quando esses exames devem ser solicitados?

Quando houver sintomas que levem a suspeita de alguma doença hepática, como icterícia, urina escura ou fezes claras; náusea, vômitos e/ou diarreia; perda de apetite; vômito de sangue; fezes muito escuras ou com sangue vivo; inchaço ou dor abdominal; alteração incomum no peso; ou fadiga ou falta de energia. Um ou mais desses testes podem ser solicitados quando um indivíduo foi ou pode ter sido exposto a vírus causador de hepatite; tem história familiar de doença hepática; consome bebidas alcoólicas em excesso; ou está usando medicamento que possa causar lesão hepática.

Muitos pacientes com doença hepática inicial leve a moderada apresentam poucos ou nenhum desses sintomas. A doença hepática pode ser descoberta com um teste realizado como parte de exame físico de rotina, que geralmente inclui um grupo de 14 exames denominado perfil metabólico abrangente (CMP). A maioria dos testes incluídos no perfil hepático (todos, exceto bilirrubina direta) está no CMP. Quando se detecta doença hepática em CMP sanguíneo, ela pode ser acompanhada ao longo do tempo com o perfil hepático.

CLASSIFICAÇÃO E ESTADIAMENTO DAS DOENÇAS HEPÁTICAS

A classificação se refere à avaliação da gravidade ou a atividade da doença hepática, se aguda ou crônica, ativa ou inativa, e leve, moderada ou grave. Os níveis séricos de aminotransferases são usados como meio conveniente e não-invasivo de acompanhar a atividade da doença, mas nem sempre são confiáveis para exprimir a real dimensão da enfermidade. A biopsia hepática é também o meio mais preciso para avaliar o estágio da doença como precoce ou avançada, pré-cirrótica e cirrótica. O estadiamento da doença está ligado amplamente a moléstias hepáticas crônicas, nas quais podem ocorrer progressão para cirrose e doença hepática terminal, mas cujo desenvolvimento pode demorar anos ou décadas. As manifestações clínicas, os testes bioquímicos e os estudos de imagem hepática são úteis na avaliação do estágio, mas em geral se tornam anormais somente nas etapas intermediárias a tardias da cirrose. As fases iniciais da cirrose são geralmente detectáveis somente pela biopsia hepática. Na avaliação do estágio, o grau de fibrose é geralmente usado como medida quantitativa. A quantidade de fibrose é geralmente classificada de 0 a 4+ (índice de atividade histológica) ou escala de 0 a 6+ (escala de Ishak)

A cirrose também pode ser classificada clinicamente. Um sistema de estadiamento é a classificação de Child-Pugh modificada, com um sistema de escore de 5 a 15: 9 escores 5 a 6 são a classe A de Child-Pugh (“cirrose compensada”), 9 escores 7 a 9 indicam a classe B, 9 escores 10 a 15 a classe C. Este sistema de pontuação foi desenvolvido inicialmente para estratificar pacientes em grupos de risco antes de serem submetidos a cirurgia de descompressão portal. Atualmente é utilizado para avaliar o prognóstico da cirrose e orienta o critério padrão para inscrição no cadastro de transplante hepático (classe B de Child-Pulgh ). A classificação de Child-Pugh é um fator preditivo razoavelmente confiável de sobrevida de várias doenças hepáticas e antecipa a probabilidade de complicações importantes da cirrose, como sangramento por varizes e peritonite bacteriana espontânea.

classificação de Child

Nota: O escore de Child-Pugh é calculado somando os pontos dos cinco fatores, e varia de 5 a 15. A classe de Child-Pugh é A (escore de 5 a 6 ), B ( 7 a 9), ou C ( acima de 10 ). Em geral, a “descompensação” indica cirrose com um escore de Child-Pugh > 7 (classe B de Child-Pugh) e este nível é um critério aceito para inclusão no cadastro do transplante hepático.

1) Modelo matemático MELD, o qual utiliza três parâmetros laboratoriais, que se obtêm facilmente na rotina de qualquer hepatopatia crônica. A equação para calcular o escore MELD = {9,57 x loge creatinina mg/dL + 3,78 x loge bilirrubina (total) mg/dL + 11,20 x loge INR + 6,42], arredondando-se o resultado para o próximo número inteiro. O valor máximo de creatinina vai até 4. (Para conceituação de hepatopatia grave, aceita-se atualmente o valor do MELD igual ou maior que 15 (ref 2)

 2) Classificação prognóstica de Child-Pugh, que utiliza três variáveis laboratoriais, igualmente rotineiras em qualquer hepatopatia crônica e duas variáveis de avaliação subjetiva, a saber ascite e encefalopatia hepática. Desta forma, considera-se como inquestionavelmente graves os pacientes da classe C, (maior ou igual a 10 pontos), é usada para avaliar o prognóstico da doença hepática crônica, principalmente da cirrose. Embora tenha sido usado originalmente para predizer a mortalidade durante a cirurgia, a escala é usada atualmente para determinar o prognóstico, assim como a necessidade de transplante hepático.

DIAGNÓSTICO CLÍNICO DAS HEPATITES AGUDAS

Os quadros clínicos agudos das hepatites virais são muito diversificados, variando desde formas subclínicas ou oligossintomáticas até formas fulminantes. A maioria dos casos cursa com predominância de fadiga, anorexia, náuseas, mal-estar geral e adinamia. Nos pacientes sintomáticos, o período de doença aguda se caracteriza pela presença de colúria, hipocolia fecal e icterícia. As aminotransferases (ALT/TGP e AST/TGO) são marcadores sensíveis de lesão do parênquima hepático, porém não são específicas para nenhum tipo de hepatite. A elevação da ALT/TGP geralmente é maior que da AST/TGO e já é encontrada durante o período prodrômico. Níveis mais elevados de ALT/TGP quando presentes não guardam correlação direta com a gravidade da doença. As aminotransferases, na fase mais aguda da doença, podem elevar-se dez vezes acima do limite superior da normalidade.

Também são encontradas outras alterações inespecíficas como elevação de bilirrubinas, fosfatase alcalina e discreta linfocitose – eventualmente com atipia linfocitária.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Os testes de função hepática, especialmente os níveis séricos da ALT/ TGP e AST/TGO, apesar de serem indicadores sensíveis do dano do parênquima hepático, não são específicos para hepatites. Os exames específicos para o diagnóstico do tipo de infecção são os sorológicos e os de biologia molecular.

Exames de Biologia Molecular

Os testes de biologia molecular são utilizados para detectar a presença do ácido nucléico do vírus (DNA para o vírus da hepatite B e RNA para os demais vírus da hepatite). Os testes podem ser qualitativos (indicam a presença ou ausência do vírus na amostra pesquisada), quantitativos (indicam a carga viral presente na amostra) ou de genotipagem (indicam o genótipo do vírus). Para realização dos testes de biologia molecular existem várias técnicas (Polimerase Chain Reaction ou PCR, hibridização, branched-DNA ou b-DNA, seqüenciamento, Transcription-Mediated Amplification ou TMA). A definição da técnica a ser utilizada depende da informação clínica que se quer obter – presença ou ausência do vírus, replicação viral, genótipo do vírus, pesquisa de mutações no genoma viral, etc. Na prática, os testes de biologia molecular são utilizados para:

• confirmação diagnóstica;

• detecção da viremia;

• monitoramento terapêutico; • Avaliação de resposta virológica sustentada da hepatite crônica pelo vírus C;

• diagnóstico de acidente ocupacional;

• diagnóstico de transmissão vertical do vírus C;

• diagnóstico em imunossuprimidos;

• na suspeita de mutação pré-core do HBV (pacientes HBeAg não reagentes para diferenciar portador inativo de pacientes com hepatite crônica);

• na suspeita de resistência à lamivudina.

Bibliografia

  • Goldman Cecil Medicina Interna (PORTUGUÊS) (PDF) 24ª Edição – Parte 1
  • Tratado de Medicina de Família e Comunidade – Princípios, formação e prática (gusso) 2019 Vol. 1 e 2
  • http://sbhepatologia.org.br/associados/pdf/manual_hepatopatia_grave.pdf
  • labtestsonline.org.br
  • https://www.msdmanuals.com
  • https://hepato.com/2006/06/24/testes-de-funcao-hepatica/
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Estudante de Medicina, Fonoaudióloga e Autora do Blog Resumos Medicina

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