Ilustração do ciclo de vida da tênia, com foco no verme parasita em um ambiente abstrato.
Ilustração do ciclo de vida da tênia, com foco no verme parasita em um ambiente abstrato.

Morfologia

Verme adulto: A T. saginata e T. solium apresentam corpo achatado, dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo.

  • Escólex: situada na extremidade anterior; funciona como órgão de fixação do cestódeo à mucosa do intestino delgado humano, através das ventosas e dos ganchos.
  • Colo: porção mais delgada do corpo onde as células do parênquima estão em intensa atividade de multiplicação, é a zona de crescimento do parasito ou de formação das proglotes.
  • Estróbilo: é o restante do corpo do parasito; inicia-se logo após o colo; observando-se diferenciação tissular que permite o reconhecimento de órgãos internos, ou da segmentação do estróbilo; cada segmento formado denomina-se proglote ou anel; a estrobilização é progressiva; quanto mais afastado do escólex, mais evoluídas são as proglotes.

OBS: As proglotes são subdivididas em em jovens, maduras e grávidas.

  • Jovens: são mais curtas do que largas e já apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos que se formam mais rapidamente que os femininos.
  • Maduras: possui os órgãos reprodutores completos e aptos para a fecundação.
  • Grávidas: estão situadas mais distantes do escólex, são mais compridas do que largas e internamente os órgãos reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica cada vez mais, ficando repleto de ovos. A proglote grávida de T. solium (80 mil ovos) é quadrangular e a da T. saginata (160 mil ovos) é retangular. Dentre esses ovos apenas 50% são maduros e férteis.Essas proglotes sofrem apólise, ou seja, desprendem-se espontaneamente do estróbilo. Em T. solium, são eliminados passivamente com as fezes de três a seis anéis unidos, enquanto em T. saginata as proglotes se destacam separadamente, podendo se deslocar ativamente.

Ovo: Ovos: esféricos, são constituídos por uma casca protetora, embrióforo, que é formado por blocos piramidais de quitina unidos entre si por uma substância cementante que lhe confere resistência no ambiente, internamente, encontra-se o embrião hexacanto ou oncosfera, provido de três pares de acúleos e dupla membrana.

Cisticerco: o cisticerco da T. solium é constituído de uma vesícula translúcida com líquido claro, contendo invaginado no seu interior um escólex com quatro ventosas, rostelo e colo. O cisticerco da T. saginata apresenta a mesma morfologia diferindo apenas pela ausência do rostelo. A parede da vesícula dos cisticercos é composta por três membranas: cuticular ou externa, uma celular ou intermediária e uma reticular ou interna.

Hábitat

Tanto a T. solium como a T. saginata, na fase adulta ou reprodutiva, vivem no intestino delgado humano.

O cisticerco da T. solium é encontrado no tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e no olho de suínos e acidentalmente em humanos e cães.

O cisticerco da T. saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos.

Ciclo

Os humanos parasitados eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos para o exterior.

As proglotes se rompem no meio externo, por efeito da contração muscular ou decomposição de suas estruturas, liberando milhares de ovos no solo.

No ambiente úmido e protegido de luz solar intensa os ovos têm grande longevidade mantendo-se infectantes por meses.

Ciclo da Taenia saginata:

Cada proglote grávida desta tênia contém em tomo de 80.000 ovos. Um paciente parasitado contamina o meio, portanto, com cerca de 700.000 ovos de tênia por dia.

Quando os ovos são ingeridos pelo gado, dão-se a eclosão e a ativação do embrião (pela ação dos sucos digestivos e da bile); em seguida, a oncosfera penetra na mucosa intestinal e ganha a circulação sanguínea.

O desenvolvimento posterior terá lugar sobretudo no tecido conjuntivo dos músculos esqueléticos e cardíaco, mas alguns cisticercos irão desenvolver-se também no tecido gorduroso e no parênquima de alguns órgãos.

Duas semanas após a infecção os cisticercos já são visíveis a olho nu, e medem (com a reação inflamatória que os envolve) entre 2 e 5 mm de diâmetro.

O completo amadurecimento e a capacidade infectante para o hospedeiro definitivo só são alcançados depois de 10 semanas, aproximadamente.

O cisticerco de T. saginata apresenta-se como uma vesícula translúcida, de aspecto perláceo, ovóide ou alongada, segundo as pressões do tecido em torno, cheia de um líquido claro onde se encontra mergulhado o receptaculum capitis que contém o escólex invaginado, sem rostro e sem ganchos, da futura tênia.

A longevidade dos cisticercos é relativamente curta, começando as larvas a degenerar, no gado, algumas semanas depois. Aos nove meses, a maioria dos cisticercos já morreu e se calcificou.

Ciclo da Taenia solium:

O verme, medindo em geral 14 a 4 metros, fica implantado no início do jejuno, por meio de suas quatro ventosas e de seu rostelo armado com duas fileiras de ganchos.

Diariamente, pequenos segmentos da cadeia, compreendendo em média cinco proglotes, são eliminados passivamente pelos pacientes, de mistura com as fezes.

Liberada a oncosfera, pela ação dos sucos digestivos e da bile, na luz intestinal, dá-se a penetração ativa da larva na mucosa e a invasão da circulação, que a levará passivamente ao lugar de implantação definitiva.

O cisticerco de T.solium desenvolve-se em qualquer parte, mas, de preferência, nos músculos esqueléticos e cardíaco dos suínos.

A oncosfera sofre então um processo de modificação vesicular e perde seus seis ganchos.

Da parede da vesícula formada cresce internamente o escólex invaginado da futura tênia adulta, com quatro ventosas, um rostro e sua dupla fileira de ganchos.

O cisticerco de T.solium é um pouco maior que o da tênia do boi. Sua vesícula é mais transparente, permitindo ver a silhueta do receptaculum capitis, no interior. Porém o escólex é menor.

Ao fim de 60 a 75 dias, esta larva já é infectante para o homem, porém permanece viável na musculatura do suíno durante vários anos e, talvez, toda sua vida.

A infecção humana ocorre quando a carne de porco é consumida crua ou insuficientemente cozida.

No tubo digestivo do homem, os cisticercos são liberados pela digestão da carne e, sob a ação da bile, desinvaginam o escólex.

As ventosas fixam-se à mucosa, e o rostro insinua-se entre as vilosidades ou no interior das criptas de Lieberkiihn do jejuno, onde ancoram firmemente com seus acúleos.

Os pacientes começam a evacuar as primeiras proglotes de T.solium 60 a 70 dias depois. Nessa ocasião, o helminto já mede mais de dois metros de comprimento.

A proglote grávida de T. solium tem menor atividade locomotora que a de T. saginata.

A T. solium tem uma longevidade de três anos enquanto a T. saginata até dez anos.

 

Transmissão

Teníase: o hospedeiro definitivo (humanos) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina, crua ou malcozida, infetada, respectivamente, pelo cisticerco de cada espécie de Taenia.

A cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase.

Mecanismo de infecção:

  • Autoinfecção externa: ocorre em portadores de T. solium quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia levado-os a boca pelas mãos contaminadas ou pela coprofagia.
  • Autoinfecção interna: poderá ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando a presença de proglotes grávidas ou ovos de T. solium no estômago. Estes depois da ação do suco gástrico e posterior ativação das oncosferas voltariam ao intestino delgado, desenvolvendo o ciclo auto-infectante.
  • Heteroinfecção: ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contaminados com os ovos da T. solium disseminados no ambiente através das dejeções de outro paciente.

Patogenia e Sintomatologia

Teníase:

  • Devido ao longo período em que a T. solium ou T. saginata parasita o homem, elas podem causar fenômenos tóxicos alérgicos, através de substâncias excretadas, provocar hemorragias através da fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco.
  • O acelerado crescimento do parasito requer um considerável suplemento nutricional, que leva a uma competição com hospedeiro, provocando consequências maléficas para o mesmo. Tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdômen, dores de vários graus de intensidade em diferentes regiões do abdômen e perda de peso. Obstrução intestinal provocada pelo estróbilo, ou ainda a penetração de uma proglote no apêndice.

Cisticercose:

  • E uma doença pleomórfica pela possibilidade de alojar-se o cisticerco em diversas partes do organismo, como tecidos musculares ou subcutâneos; glândulas mamárias (mais raramente); globo ocular e com mais frequência no sistema nervoso central.
  • As manifestações clínicas causadas pelo C. cellulosae dependem de fatores, como número, tamanho e localização dos cisticercos; estágio de desenvolvimento, viáveis, em degeneração ou calcificados, e a resposta imunológica do hospedeiro aos antígenos da larva.
  • A cisticercose muscular ou subcutânea pouca alteração provoca e em geral é uma forma assintomática. Os cisticercos aí instalados desenvolvem reação local, formando uma membrana adventícia fibrosa. Com a morte do parasito há tendência a calcificação.
  • Quando numerosos cisticercos instalam-se em músculos esqueléticos, podem provocar dor, fadiga e cãibras (quer estejam calcificados ou não), especialmente quando localizados nas pernas, região lombar e nuca.
  • A cisticercose cardíaca pode resultar em palpitações e ruídos anormais ou dispnéia quando os cisticercos se instalam nas válvulas.
  • Na cisticercose ocular sabe-se que o cisticerco alcança o globo ocular através dos vasos da coróide, instalando-se na retina. Aí cresce, provocando ou o descolamento desta ou sua perfuração, atingindo o humor vítreo. As alterações dependendo da extensão, promovem a perda parcial ou total da visão e, as vezes, até desorganização intraocular e perda do olho.
  • A cisticercose no sistema nervoso central pode acometer o paciente por três processos: presença do cisticerco no parênquima cerebral ou nos espaços liquóricos; pelo processo inflamatório decorrente; ou pela formação de fibroses, granulomas e calcificações.
  • Os cisticercos parenquimatosos podem ser responsáveis por processos compressivos, irritativos, vasculares e obstrutivos; os instalados nos ventrículos podem causar a obstrução do fluxo líquido cefalorraquidiano, hipertensão intracraniana e hidrocefalia e, finalmente, as calcificações, que correspondem a forma cicatricial da neurocisticercose e estão associadas a epileptogênese.
  • As localizações mais frequentes dos cisticercos no SNC são leptomeninge e córtex (substância cinzenta).

Profilaxia

Construção de pocilgas adequadas, fossas sépticas ou latrinas, ligadas à rede de esgotos;

Tratamento do homem infectado;

Destruição das tênias eliminadas (incineração);

Inspeção de carcaças nos matadouros;

Educação sanitária.

Bibliografia

Parasitologia Humana, David Pereira Neves, 11ª edição.

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