Staphylococcus aureus.

O Staphylococcus aureus é uma bactéria esférica, do grupo dos cocos gram-positivos, frequentemente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis. Entretanto pode provocar doenças, que vão desde uma simples infecção (espinhas, furúnculos e
celulites) até infecções graves (pneumonia, meningite, endocardite, síndrome do choque tóxico, septicemia e outras).

As cepas de S. aureus crescem em meios comuns, caldo ou ágar simples, pH = 7, à temperatura ótima de 37oC. As colônias formadas em placa, após 18-24 horas de incubação, apresentam-se arredondadas, lisas e brilhantes.

A coloração dessas colônias varia desde o acinzentado até o amarelo-ouro, em que a pigmentação aumenta com o tempo de incubação prolongado.

A distribuição de S. aureus é muito ampla, visto que essa bactéria é significativamente capaz de resistir à dessecação e ao frio, podendo permanecer viável por longos períodos em partículas de poeira. Esse microorganismo pode ser encontrado no ambiente de circulação do ser humano, sendo o próprio homem seu principal reservatório, além de estar presente em diversas partes do corpo, como fossas nasais, garganta, intestinos e pele. Desses sítios anatômicos, as narinas possuem o maior índice de colonização, cuja prevalência é de cerca de 40% na população adulta, podendo ser ainda maior dentro de hospitais.

O S. aureus encontrado nas fossas nasais ou na pele de neonatos, crianças e adultos pode, a partir desses sítios, alcançar outras regiões da pele e das mucosas. Caso as barreiras naturais, isto é, pele e mucosas, estejam comprometidas por trauma ou cirurgia, o S aureus pode se alojar no tecido e provocar uma lesão local.

A colonização nasal pelo S. aureus é desprovida de sintomas, ou seja, o individuo não desenvolve infecção.
Essa colonização assintomática tem grande importância clínica, uma vez que, com as narinas colonizadas, o indivíduo contamina as próprias mãos e passa a ser veículo de transferência da bactéria no mecanismo de infecções por contato.

Fatores de Virulência

A capacidade de colonização e a patogenicidade do S.aureus são, portanto, uma conseqüência de seus fatores de virulência, os quais têm papel relevante na adesão celular, na captação de nutrientes e na sua evasão da resposta imunológica do hospedeiro.

Esses fatores de virulência podem ser classificados, basicamente, nas três seguintes categorias:

  • fatores relacionados com a aderência às células do hospedeiro ou à matriz extracelular, como a produção de moléculas de fibrinogênio, fibronectina, colágeno ou da enzima coagulase; 
  • fatores relacionados com a evasão da defesa do hospedeiro, como diversas enterotoxinas estafilocócicas (SEs A-E, G-J, K, L, M, O e P), a toxina da síndrome do choque tóxico (TSST), a proteína A, lipases e polissacarídeos capsulares; 
  • fatores relacionados com a invasão na célula do hospedeiro e a penetração nos tecidos ou adesão de superfícies de cateteres e próteses,os quais incluem as proteínas (toxinas) α, β, δ, γ e δ – hemolisinas.

O alto potencial infeccioso do S. aureus não está restrito apenas à sua facilidade de multiplicação e disseminação nos tecidos, mas também à produção de moléculas com grande poder patogênico, que incluem enzimas e toxinas. As betalactamases, coagulases, hialuronidases e catalases são algumas das enzimas produzidas para esse fim.  

Além dessas enzimas, o S. aureus também produz DNAses, lipases, proteases e esterases(3, 28, 34). Entre as toxinas produzidas por esse patógeno destacam-se as seguintes: alfa, beta e gama toxinas, a leucocidina, a esfoliatina, a toxina do
choque tóxico e as enterotoxinas.

Os diferentes tipos de toxina produzidos pelo S. aureus podem induzir uma resposta imune, diferenciada para cada hospedeiro, que é responsável pelas manifestações clínicas características do processo infeccioso e que determina o grau de severidade dos sintomas sistêmicos.

tabela 1

tabela 2.1

tabela 2.22

Patogênese

As doenças provocadas pelo S. aureus podem ser decorrentes da invasão direta dos tecidos, de bacteremia primária ou, exclusivamente, ser devidas às toxinas que ele produz. Essas infecções podem se localizar em um ou em múltiplos sítios, e, de acordo com a localização e outras características, recebem diferentes designações, como foliculite (infecção do folículo piloso); sico (bichodo-pé); carbúnculo; antraz; furúnculos localizados na região cervical posterior; hordéolo (terçol); hidradenite (inflamação das glândulas sudoríparas); e impetigo.

Infecções superficiais:nesse tipo de infecção, o inóculo vem do meio externo e leva ao crescimento bacteriano localizado em sítios como feridas cirúrgicas, lesões decorrentes de queimaduras e outras infecções da derme e tecido subcutâneo.S. aureus também pode causar celulite, uma condição caracterizada por crescimento bacteriano e inflamação difusa, mas localizados, da derme e tecido subcutâneo sem a formação de pus.

Infecções profundas:incluem a disseminação, por bacteremia, das células bacterianas e a sua instalação em sítios distantes do local de entrada na via sistêmica. A bacteremia por S. aureus, por si só, pode causar uma série de complicações como choque séptico, trombose e até óbito.  A aquisição da via sistêmica por S. aureus pode servir também de rota para a instalação de focos de infecção secundária, que podem culminar na formação de abscessos profundos, osteomielite, infecções de tecido cartilaginoso, endocardite e meningite, essa última trazendo complicações neurológicas. S. aureus também pode causar infecções do trato respiratório inferior.

Manifestações Clínicas

Síndrome da Pele Escaldada por Estafilococos: é caracterizada pelo aparecimento abrupto de um eritema perioral localizado (vermelhidão e inflamação ao redor da boca), que se espalha pelo corpo inteiro em dois dias. Uma leve pressão desloca a pele e grandes bolhas ou vesículas cutâneas consequentemente se formam, seguidas pela descamação da epiderme. As vesículas contêm um fluido claro, mas nenhum organismo nem leucócitos estão presentes. Esta observação é consistente com o fato da doença ser causada pela toxina bacteriana. O epitélio se torna intacto novamente dentro de 7 a 10 dias, quando os anticorpos contra a toxina aparecem. A doença não deixa cicatriz porque somente a camada superior da pele é descamada. 

Intoxicação Alimentar por Estafilococos: é causada pela toxina bacteriana presente no alimento e não pela ação direta do microrganismo no paciente. Os alimentos mais comumente contaminados são carnes processadas como o presunto e carne de porco salgada, massas recheadas com cremes, salada de batata e sorvete. Após a ingestão do alimento contaminado, o início da doença é abrupto e rápido, com um período médio de incubação de quatro horas, o que é novamente consistente com uma doença mediada por toxina pré-formada. Além do mais, a toxina não é produzida pelos estafilococos ingeridos, assim a doença apresenta um curso rápido, com os sintomas geralmente durando menos de 24 horas. O vômito grave, diarreia e dor abdominal ou náuseas são características da intoxicação por estafilococos. 

Impetigo: é uma infecção superficial que afeta principalmente crianças pequenas, ocorre principalmente na face e nos membros. Inicialmente é observada uma pequena mácula (um ponto vermelho aplainado) e, então, se desenvolve uma vesícula cheia de pus (pústula) sobre uma base eritematosa. Uma crosta se forma após o rompimento da vesícula. São comuns múltiplas vesículas em diferentes estágios de desenvolvimento, levando à disseminação secundária da infecção aos sítios adjacentes da pele.

Foliculite: é é uma infecção piogênica no folículo piloso. A base do folículo é elevada e avermelhada, e é observada uma pequena quantidade de pus embaixo da superfície da epiderme. Se esta infecção ocorre na base da pálpebra, é chamada de terçol.

Furúnculos: é uma extensão da foliculite, são nódulos grandes, doloridos e elevados que apresentam um conjunto de tecido necrótico e morto. Os furúnculos podem drenar espontaneamente ou após uma incisão cirúrgica. 

Carbúnculos: ocorrem quando os furúnculos coalescem e se expandem para o tecido subcutâneo mais profundo. Múltiplas fístulas estão usualmente presentes. Diferentemente dos pacientes com foliculite ou furúnculos, os pacientes com carbúnculo apresentam calafrios e febre, o que indica a disseminação sistêmica via bacteremia para outros tecidos.

Endocardite: pacientes com endocardite por S. aureus possam inicialmente apresentar sintomas não específicos, semelhantes aos sintomas da gripe, sua condição se deteriora rapidamente e inclui distúrbios do débito cardíaco e evidências de embolia séptica.

Pneumonia por aspiração:  é vista principalmente em jovens, idosos e em pacientes com fibrose cística, gripe, doença pulmonar obstrutiva crônica e bronquestasia. A manifestação clínica e radiográfica da pneumonia não são características. O exame radiográfico revela a presença de infiltrados desiguais com consolidação, ou abscessos que são consistentes com a habilidade do organismo secretar toxinas citotóxicas e enzimas, e formar abscessos localizados. 

Osteomielite: pode levar uma disseminação hematogênica para o osso, ou pode ser uma infecção secundária, que resulta do trauma ou da extensão de uma doença da área adjacente. A disseminação hematogênica em crianças resulta geralmente de uma infecção cutânea estafilocócica e usualmente envolve a área da metáfise dos ossos longos, uma área altamente vascularizada de crescimento ósseo. A infecção é caracterizada pelo aparecimento abrupto de dor localizada sobre o osso envolvido e por febre alta.

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Bibliografia

https://www.scielo.br/pdf/jbpml/v43n6/v43n6a05.pdf

Microbiologia, Trabulsi Alterthum, 6ª edição.

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Estudante de Medicina e Autora do Blog Resumos Medicina