Caso Clínico - Sistema nervoso II.

 Hoje os estudantes de medicina em visita com a ACS Luziete foram avaliar as cadernetas de saúde das crianças e visitaram a casa de dona Lucinéia. Ela é mãe de Miquetson, um bebê de 8 meses, e está apreensiva porque vai voltar a trabalhar e deixara o bebe na creche da comunidade Bolabranca. Então perguntou aos estudantes se o desenvolvimento dele está normal para idade. Ele já consegue passar objetos de uma mão para outra e faz pinça utilizando o dedo polegar e indicador. Os estudantes solicitaram que dona Lucinéia mostrasse a caderneta de saúde da criança a qual estava muito bem preenchida com os marcos do desenvolvimento. 

O que é o desenvolvimento Neuropsico Motor

O desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) é definido como um processo de mudanças no comportamento motor, de um indivíduo e que está interligado com a idade. O desenvolvimento neuropsicomotor compreende a observação continuada dos progressos funcionais da criança com base em expectativas determinadas para cada faixa etária, nas áreas motora, psicossocial, cognitiva e linguagem. É uma das mais importantes atividades pediátricas considerando a relevância do diagnóstico precoce dos transtornos do neurodesenvolvimento, permitindo a imediata intervenção visando à redução dos agravos associados.

Como ocorre o desenvolvimento do Sistema Nervoso

A neurulação é o evento-chave no desenvolvimento do sistema nervoso. Ele acontece quando a medula espinha primitiva (notocorda) envia um sinal aos tecidos que a recobre para que se torne mais espesso, formando a placa neural. Esta invagina-se criando assim o sulco neural. As pregas dentro dele fundem-se e fecham para formar o tubo neural. Parte do tecido das pregas é bloqueado para originar a crista neural, futuro sistema nervoso periférico.

Nos dias seguintes à concepção o embrião é só um minúsculo aglomerado de células (mórula). O desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso como um todo começa em 3 semanas, com a diferenciação celular que forma a placa neural ao longo do dorso do embrião; esta se amplia e sofre uma invaginação dando origem ao tubo neural, cujo a cavidade interna é cheia de líquido amniótico, que se tornará o encéfalo e a medula espinhal. O primeiro começa a se desenvolver em 4 semanas como um diminuto bulbo na extremidade superior do tubo neural; a segunda é formada pela parte inferior do tubo. As principais partes cerebrais – córtex incluído – são visíveis em 7 semanas a partir de então o cérebro começará a crescer e se desenvolver.

placa neural

OBS: O processo de formação do cérebro humano se estende durante as 40 semanas de gestação normal e prossegue até o fim da primeira década de vida extrauterina. O processo envolve a origem de 10 1 1 neurônios, divisíveis em múltiplos tipos celulares.

Defeitos do Tubo Neural

Espinha Bífida

Espinha Bífida

Anencéfalia

Anencéfalia

Encefalocele

encefalocele

OBS: A incidência de DTN varia em diferentes áreas geográficas e em diferentes grupos étnicos, mas não há uma influência da idade materna.

Marcos do Desenvolvimento

Entre 6 e 9 meses, o bebê irá:

– Sentar sem apoio e usar os braços para se equilibrar (sentado)

– Segurar objetos fazendo movimento de pinça com o polegar e o indicador.

– Olhar atentamente os objetos de interesse

– Passar objetos de uma mão a outra

– Gostar de ficar com quem conhece e estranhar algumas pessoas

– Imitar gestos e sons

marcos do desenvolvimento

Possíveis Causas de Atraso no Desenvolvimento

O atraso no desenvolvimento neuropsicomotor pode ser causado devido a alterações que podem ter acontecido:

  • No ato da concepção; 
  • Durante a gravidez, desnutrição, doenças como Rubéola, trauma;
  • No momento do parto;
  • Alterações genéticas como a Síndrome de Down;
  • Após o nascimento, como doenças, trauma, desnutrição, traumatismo craniano;
  • Outros fatores ambientais ou comportamentais, como a desnutrição.

 

O bebê que nasce prematuramente tem um maior risco de ter atraso no desenvolvimento, e quanto mais prematuro nascer, maior este risco. 

As crianças diagnosticadas com paralisia cerebral têm maior risco de ter atraso no desenvolvimento, mas nem toda criança com atraso no desenvolvimento tem paralisia cerebral. Por isso é de extrema importância a realização da anamnese e solicitação de exames complementares (ultra-som durante a gestação e dosagem de alfa-feto proteína, no líquido amniótico) quando necessários.

Anamnese

O desenvolvimento neuropsicomotor é avaliado através de escalas, da anamnese e o exame neurológico. A anamnese deve ser muito minuciosa e conter detalhes específicos sobre a história familiar, história da gestação/parto/período neonatal, contexto social e familiar e os marcos do desenvolvimento.

Esse processo é extremamente complexo e possui inúmeras variáveis que podem modificar seu trajeto. Cada criança deve ser avaliada individualmente, já que existem as variações de idade para o início de todas as aquisições.

A importância da anamnese detalhada torna-se indispensável uma vez que os defeitos de tubo neural são de herança multifatorial, apresentam etiologia heterogênea (diversos mecanismos podem ocorrer em sua gênese), a maioria dos casos é atribuída à interação entre vários genes e fatores ambientais como:

  • Diabetes mellitus materno
  • níveis elevados de alfafetoproteína (AFP) (é uma glicoproteína sintetizada pelo fígado, a AFP é a principal proteína do soro fetal, daí o seu nome, pois é produzida no desenvolvimento (morfogênese) do embrião e do feto) no soro materno, pois a AFP presente no soro fetal extravasa através das meninges expostas para o líquido amniótico.
  • A falta de vitamina do complexo B, (especialmente o ácido fólico) dificulta a síntese de DNA do feto. Sendo assim, os genes responsáveis pela ativação da formação do tubo neural ficarão comprometido o que pode levar a má formação dessa estrutura.
  • USO DE ácido valpróico (PARA CONTROLAR EPLEPSIA)
  • OBESIDADE MATERNA
  • Deficiência de zinco
  • Hiper e Hipotermias
  • Hipervitaminose A

OBS: durante a anamnese torna-se indispensável solicitar a carteira de saúde da criança.

Cartão de Saúde da Criança

A Caderneta de Saúde da Criança (CSC) foi implantada pelo Ministério da Saúde a partir de 2005 para substituir o Cartão da Criança, e reúne o registro dos mais importantes eventos relacionados à saúde infantil. Além do cartão de vacina, a Caderneta apresenta o registro da história obstétrica e neonatal; indicadores de crescimento e desenvolvimento; aspectos importantes da alimentação como aleitamento materno e uso de sulfato ferroso e vitamina A; dados sobre a saúde bucal, auditiva e visual; intercorrências clínicas; além de orientações para a promoção da saúde e prevenção da ocorrência de acidentes e violência doméstica.

A CSC é destinada a todos os nascidos em território brasileiro, e, por basear-se em ações de acompanhamento e promoção da saúde, inclui-se como estratégia privilegiada nas políticas de redução da morbimortalidade infantil.

Bibliografia

MACHADO, Angelo B. M.. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2007

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_5ed.pdf

MOORE, K, L., PERSAUD, T.V.N. Embriologia clínica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 536p.

 

 

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Estudante de Medicina, Fonoaudióloga e Autora do Blog Resumos Medicina