O Breast Imaging Reporting and Data System, universalmente conhecido pela sigla BI-RADS, representa um sistema de classificação e de dados essencial na imagiologia mamária. Sua implementação visa padronizar de forma rigorosa os laudos e relatórios gerados a partir dos principais exames de imagem da mama: mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética. Esta ferramenta foi concebida para conferir maior objetividade e consistência à interpretação radiológica.
Os objetivos centrais do sistema BI-RADS são multifacetados e clinicamente relevantes. Primariamente, busca-se a uniformização dos relatórios, estabelecendo um léxico e uma estrutura consistentes para descrever os achados imagiológicos. Consequentemente, promove-se uma comunicação mais eficaz e clara entre os médicos radiologistas e os clínicos ou cirurgiões responsáveis pelo manejo das pacientes, minimizando ambiguidades.
Adicionalmente, um propósito fundamental do BI-RADS é fornecer uma estimativa do risco de malignidade associado a cada achado específico detectado no exame. Essa categorização de risco é crucial, pois serve como base para orientar a conduta clínica subsequente. Com base na classificação BI-RADS atribuída, define-se a necessidade de prosseguir com o rastreamento de rotina, solicitar avaliações adicionais (BI-RADS 0), realizar acompanhamento em curto intervalo (BI-RADS 3), indicar biópsia para confirmação histopatológica (BI-RADS 4 e 5) ou proceder com o manejo de uma malignidade já confirmada (BI-RADS 6). Portanto, o sistema funciona como um guia estruturado para a tomada de decisão no diagnóstico e seguimento das alterações mamárias.
Visão Geral das Categorias BI-RADS e Condutas Associadas
O sistema Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS), desenvolvido para padronizar laudos de exames de imagem da mama (mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética), é fundamental para a comunicação clara entre radiologistas e médicos assistentes. Ele categoriza os achados em uma escala de 0 a 6, indicando o nível de suspeição de malignidade e orientando a conduta clínica subsequente.
Categorias BI-RADS e Implicações Clínicas
A classificação BI-RADS estrutura a interpretação dos achados de imagem e define os próximos passos na investigação ou acompanhamento da paciente. Cada categoria possui um significado específico e uma conduta associada:
- BI-RADS 0: Avaliação Incompleta
Indica que o exame é inconclusivo ou incompleto, necessitando de avaliação adicional para um diagnóstico definitivo. Isso pode envolver a obtenção de incidências mamográficas complementares, realização de ultrassonografia, ressonância magnética ou comparação com exames anteriores. A conduta é obter as informações adicionais necessárias para classificar o achado em uma categoria final.
Dentro do léxico padronizado do Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS), a categoria 0 ocupa uma posição singular, indicando que a avaliação por imagem realizada é tecnicamente incompleta. Essencialmente, um laudo classificado como BI-RADS 0 sinaliza a necessidade premente de informações adicionais ou exames complementares para que uma conclusão diagnóstica definitiva possa ser alcançada.
A classificação de um exame como BI-RADS 0 pode ser motivada por diferentes fatores que impedem uma análise completa e segura. As principais razões incluem:
- Necessidade de incidências mamográficas adicionais: Pode ser requisitada a realização de projeções mamográficas complementares (como compressão localizada ou magnificação) para esclarecer achados dúbios ou mal definidos na avaliação inicial.
- Limitações técnicas do exame: Problemas na aquisição da imagem podem comprometer a qualidade da avaliação, exigindo complementação ou repetição do estudo.
- Necessidade de comparação com exames anteriores: A ausência de exames prévios para análise comparativa impede a avaliação da estabilidade ou da evolução temporal de determinados achados, tornando a avaliação atual inconclusiva.
A conduta frente a uma classificação BI-RADS 0 é invariavelmente a busca por complementação diagnóstica. Isso se traduz na solicitação de exames adicionais, escolhidos estrategicamente para resolver a pendência identificada. Os métodos complementares mais frequentemente empregados são:
- Realização de incidências mamográficas adicionais.
- Ultrassonografia mamária direcionada ou complementar.
- Ressonância magnética das mamas, em casos específicos onde a mamografia e a ultrassonografia não são suficientes para o esclarecimento.
A obtenção e a análise criteriosa dessas informações complementares são fundamentais para que o radiologista possa reavaliar o caso e atribuir uma categoria BI-RADS final (de 1 a 5), permitindo assim o direcionamento adequado da conduta clínica subsequente.
- BI-RADS 1: Negativo
Significa que não há achados anormais ou suspeitos a serem relatados. O exame é considerado normal, com risco muito baixo de malignidade. A conduta recomendada é o seguimento de rotina, conforme as diretrizes de rastreamento populacional baseadas na idade e fatores de risco individuais.
A classificação BI-RADS 1 é atribuída a exames de imagem da mama considerados normais, sem quaisquer achados anormais ou suspeitos. Esta categoria significa que não há evidência de malignidade detectável pelo método de imagem utilizado. O risco de câncer associado a um exame BI-RADS 1 é considerado muito baixo. Diante de um resultado BI-RADS 1, a conduta clínica recomendada é o retorno ao rastreamento de rotina, seguindo as diretrizes populacionais aplicáveis à paciente, baseadas em idade e fatores de risco individuais.
- BI-RADS 2: Achados Benignos
Identifica achados com características classicamente benignas (ex: cistos simples, fibroadenomas estáveis, calcificações vasculares), sem suspeita de malignidade. A probabilidade de câncer é considerada essencialmente nula ou muito baixa. Assim como na categoria 1, a conduta é o rastreamento de rotina.
A categoria BI-RADS 2 é utilizada quando o exame de imagem identifica achados, mas estes possuem características típicas e inequivocamente benignas. Nesses casos, a probabilidade de malignidade é essencialmente nula ou muito baixa, não havendo risco significativo associado aos achados. Exemplos de achados frequentemente classificados como BI-RADS 2 incluem cistos simples, fibroadenomas estáveis (ou típicos com características de benignidade) e calcificações vasculares. A presença desses achados benignos não modifica a conduta padrão. Portanto, assim como na categoria 1, a recomendação para BI-RADS 2 é a manutenção do rastreamento de rotina conforme as diretrizes estabelecidas.
Em resumo, tanto a categoria BI-RADS 1 quanto a BI-RADS 2 indicam ausência de suspeita de malignidade e um risco muito baixo ou virtualmente nulo de câncer. Por essa razão, ambas resultam na mesma conduta: prosseguir com o rastreamento mamográfico de rotina, sem necessidade de seguimento adicional ou intervenção específica relacionada aos achados do exame.
- BI-RADS 3: Achados Provavelmente Benignos
Refere-se a achados com alta probabilidade de serem benignos, mas que requerem um controle para confirmar sua estabilidade. O risco de malignidade associado é baixo (consistentemente reportado como ≤ 2% ou < 3%). A conduta padrão é o acompanhamento em curto intervalo, geralmente com repetição do exame de imagem em 6 meses, podendo estender-se por até 24 meses (com avaliações em 6, 12 e 24 meses). Se o achado permanecer estável durante o período de acompanhamento (tipicamente 2 anos), pode ser reclassificado como BI-RADS 2. Qualquer alteração suspeita durante o seguimento indica a necessidade de investigação adicional, como biópsia.
A categoria BI-RADS 3, dentro do sistema de classificação Breast Imaging Reporting and Data System, é atribuída a achados de imagem considerados provavelmente benignos. Essas lesões apresentam uma alta probabilidade de serem benignas, refletida em um baixo risco estimado de malignidade, consistentemente citado nas fontes como inferior a 2% ou 3%.
Dada essa baixa probabilidade de malignidade, a conduta padrão recomendada para achados classificados como BI-RADS 3 não é a intervenção imediata, como a biópsia, mas sim o acompanhamento por imagem em curto prazo. O principal objetivo deste seguimento é monitorar a estabilidade da lesão ao longo do tempo, avaliando se suas características permanecem inalteradas.
O protocolo de acompanhamento típico para BI-RADS 3 envolve a repetição dos exames de imagem pertinentes (mamografia e/ou ultrassonografia) em intervalos definidos. Comumente, recomenda-se uma nova avaliação inicial em 6 meses, seguida por controles subsequentes, por exemplo, aos 12 e 24 meses. Este período de vigilância por imagem usualmente se estende por 2 anos para confirmar a estabilidade.
Quanto aos desfechos do acompanhamento:
- Se a lesão demonstrar estabilidade morfológica e dimensional durante todo o período de seguimento de 2 anos, ela pode ser reclassificada como BI-RADS 2 (achado benigno). Nesse cenário, a paciente pode retornar ao regime de rastreamento mamográfico de rotina, conforme as diretrizes aplicáveis à sua faixa etária e fatores de risco.
- Por outro lado, caso se observe qualquer alteração nas características da lesão (como crescimento significativo) ou se surgir alguma nova suspeita de malignidade durante o seguimento, a conduta é modificada. Nesses casos, a investigação adicional por meio de biópsia torna-se indicada para elucidação diagnóstica definitiva.
A abordagem de acompanhamento em curto prazo para BI-RADS 3 equilibra a necessidade de vigilância com a prevenção de biópsias desnecessárias em lesões com alta probabilidade de benignidade.
- BI-RADS 4: Achados Suspeitos
Engloba achados que não apresentam as características clássicas de benignidade e possuem uma probabilidade intermediária de malignidade (variando de 2% a 95% ou 3% a 94%, conforme diferentes fontes). A biópsia é geralmente recomendada para elucidação diagnóstica. Esta categoria é subdividida para refinar a estimativa de risco:
- 4A: Baixa suspeita (Risco de 2-10% ou 3-10%) – Biópsia geralmente indicada, embora acompanhamento possa ser considerado em casos selecionados.
- 4B: Suspeita intermediária (Risco de >10% a 50%) – Biópsia recomendada.
- 4C: Suspeita moderada a alta (Risco de >50% a 94% ou >50% a 95%) – Biópsia fortemente recomendada.
A categoria BI-RADS 4, dentro do sistema Breast Imaging Reporting and Data System, é designada para achados de imagem da mama considerados suspeitos. Estes achados apresentam uma probabilidade de malignidade que abrange um espectro considerável, com estimativas de risco variando, conforme as fontes consultadas, entre 2% e 95% ou, alternativamente, entre 3% e 94%.
Devido a essa ampla gama de risco associado, a categoria BI-RADS 4 é subdividida com o objetivo de estratificar o grau de suspeição e fornecer uma orientação mais precisa para a conduta clínica. As subcategorias estabelecidas são:
- BI-RADS 4A: Representa uma baixa suspeita de malignidade. O risco de câncer associado a esta subcategoria está estimado na faixa de 2% a 10%.
- BI-RADS 4B: Indica uma suspeita intermediária de malignidade. Os achados nesta subcategoria possuem um risco de malignidade estimado entre 10% e 50%.
- BI-RADS 4C: Engloba achados com suspeita moderada a alta (ou alta suspeita) de malignidade. O risco de câncer para lesões classificadas como 4C é substancialmente elevado, situando-se entre 50% e 95%.
A conduta padrão e recomendada frente a um achado classificado como BI-RADS 4, independentemente da subcategoria (4A, 4B ou 4C), é a investigação histopatológica para elucidação diagnóstica. Consequentemente, a realização de biópsia é geralmente indicada para determinar a natureza benigna ou maligna da lesão. Os procedimentos de biópsia mais comuns neste contexto incluem a core biopsy (biópsia por agulha grossa) ou, em situações específicas, a biópsia excisional.
- BI-RADS 5: Achados Altamente Suspeitos de Malignidade
Indica achados com características morfológicas típicas de câncer, apresentando uma probabilidade muito alta de malignidade (superior a 95%). A conduta apropriada é a realização de biópsia para confirmação histopatológica e planejamento terapêutico.
A categoria BI-RADS 5 representa achados em exames de imagem da mama (mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética) que são classificados como altamente suspeitos ou sugestivos de malignidade. Esta classificação é reservada para lesões que apresentam características que indicam uma probabilidade muito elevada de serem câncer, especificamente superior a 95%.
Dada a alta probabilidade de malignidade associada a esta categoria, a conduta padrão e fortemente recomendada para achados BI-RADS 5 é a realização de biópsia. A investigação histopatológica é essencial para obter a confirmação diagnóstica definitiva.
O resultado da biópsia é fundamental não apenas para confirmar a natureza da lesão, mas também para orientar o planejamento terapêutico subsequente. Após a confirmação diagnóstica, devem ser consideradas as opções terapêuticas adequadas, incluindo, dependendo do caso e do resultado anatomopatológico, o tratamento cirúrgico.
- BI-RADS 6: Malignidade Comprovada por Biópsia
Esta categoria é reservada para achados cuja malignidade já foi confirmada histologicamente por biópsia prévia, antes da instituição do tratamento definitivo (como cirurgia ou terapia neoadjuvante). É utilizada no contexto de planejamento terapêutico ou monitoramento da resposta ao tratamento iniciado.
A categoria BI-RADS® 6 do Breast Imaging Reporting and Data System é designada especificamente para achados em exames de imagem mamária cuja malignidade já foi inequivocamente estabelecida por meio de análise histopatológica (biópsia). É fundamental ressaltar que esta classificação é aplicada exclusivamente no intervalo entre a confirmação por biópsia e a instituição do tratamento definitivo.
Portanto, a utilização da categoria BI-RADS® 6 não reflete uma nova avaliação de suspeição, mas sim o reconhecimento de uma malignidade já comprovada. Seu propósito principal reside no planejamento terapêutico e no monitoramento da lesão em contextos específicos. É aplicada, por exemplo, quando a paciente aguarda a cirurgia ou está em curso de tratamento neoadjuvante (como quimioterapia pré-operatória).
Nesse cenário de terapia neoadjuvante, exames de seguimento classificados como BI-RADS® 6 são essenciais para documentar e avaliar a resposta da lesão maligna ao tratamento instituído antes da intervenção cirúrgica definitiva, orientando as próximas etapas terapêuticas.
Conclusão
Em suma, o sistema BI-RADS fornece uma linguagem padronizada essencial para a avaliação do risco de malignidade em exames de imagem da mama, orientando de forma objetiva as condutas clínicas, desde o rastreamento de rotina até a indicação de procedimentos invasivos como a biópsia. Através de suas categorias bem definidas, o BI-RADS facilita a comunicação entre radiologistas e outros profissionais de saúde, garantindo uma abordagem mais consistente e eficaz no cuidado com a saúde mamária da paciente.