Tumor sarcoma estilizado com células irregulares em fundo celular escuro
Tumor sarcoma estilizado com células irregulares em fundo celular escuro

Este artigo aborda os sarcomas, um grupo complexo de neoplasias malignas. Iniciaremos com a definição fundamental, explorando sua origem tecidual, fatores etiológicos e epidemiologia, seguida pela caracterização da apresentação clínica inicial, com ênfase nos sinais que devem levantar suspeita diagnóstica em profissionais de saúde.

O Que São Sarcomas: Definição, Etiologia, Incidência e Apresentação Clínica

Sarcomas são neoplasias malignas que se originam de tecidos conjuntivos, também denominados tecidos mesenquimais ou de suporte corporal. Essa categoria inclui osso, cartilagem, tecido adiposo, músculo (liso e esquelético), vasos sanguíneos e tecidos fibrosos. Essa origem mesenquimal os diferencia fundamentalmente dos carcinomas, que derivam de tecidos epiteliais. Embora raros, representando menos de 1% de todos os tumores malignos em adultos, seu diagnóstico e manejo exigem conhecimento especializado.

Epidemiologicamente, os sarcomas são classificados majoritariamente em sarcomas de partes moles (SPM), compreendendo cerca de 80% dos casos, e sarcomas ósseos, responsáveis pelos 20% restantes. A incidência é maior na população adulta, embora possam ocorrer em qualquer faixa etária. Quanto à localização, nos sarcomas de partes moles, observa-se uma predileção pelos membros inferiores, onde quase metade dos casos se manifesta.

Etiologia e Fatores de Risco

A etiologia dos sarcomas de partes moles é considerada multifatorial, envolvendo uma interação entre predisposição genética e fatores ambientais. Embora a maioria dos casos seja esporádica, sem causa identificável clara, alguns fatores de risco estão bem estabelecidos:

  • Síndromes Hereditárias: Condições genéticas que aumentam significativamente o risco incluem a Neurofibromatose tipo 1 (Doença de von Recklinghausen – mutações no gene NF1), Síndrome de Li-Fraumeni (mutações no gene TP53), Síndrome de Werner, Síndrome de Beckwith-Wiedemann, Síndrome DICER1 e Retinoblastoma hereditário.
  • Exposição Ambiental: A exposição prévia à radiação ionizante (radioterapia para outros cânceres) é um fator de risco conhecido. A exposição a certos agentes químicos também foi implicada.
  • Linfedema Crônico: Em casos específicos, como na Síndrome de Stewart-Treves, o linfedema crônico (frequentemente pós-mastectomia) pode predispor ao desenvolvimento de angiossarcomas.

Apresentação Clínica Inicial e Sinais de Alerta

A manifestação clínica mais comum dos sarcomas de partes moles é o surgimento de uma massa ou tumoração palpável. Frequentemente, essa massa é inicialmente indolor e demonstra crescimento progressivo ao longo de semanas ou meses, o que pode retardar a busca por avaliação médica. No entanto, a presença de determinados sinais e sintomas deve alertar o profissional para a possibilidade de malignidade e a necessidade de investigação aprofundada:

  • Dor: O desenvolvimento de dor associada à massa.
  • Crescimento Rápido: Aumento acelerado do tamanho da lesão.
  • Tamanho: Lesões com diâmetro superior a 5 cm.
  • Profundidade: Localização profunda da massa (não superficial ou subcutânea).

A identificação precoce desses sinais de alerta é fundamental para o diagnóstico e início do tratamento em tempo hábil, impactando diretamente o prognóstico do paciente.

Classificação Histológica e Graduação: Heterogeneidade e Implicações Prognósticas

Os sarcomas de partes moles (SPM) constituem um grupo biologicamente diversificado de neoplasias malignas. A correta caracterização histopatológica é um pilar fundamental na oncologia de sarcomas, influenciando diretamente o prognóstico, o planejamento terapêutico e a predição da resposta às diferentes modalidades de tratamento.

Classificação Histológica

A classificação histológica dos SPM procura categorizar os tumores com base na semelhança morfológica e imunofenotípica das células neoplásicas com os tecidos conjuntivos normais dos quais se presume que derivem. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece a nomenclatura e critérios diagnósticos, classificando os sarcomas conforme a linhagem celular de diferenciação predominante. A identificação do subtipo histológico exige frequentemente a análise por um patologista experiente, que utiliza não apenas a morfologia, mas também painéis de imuno-histoquímica (IHC) para detectar marcadores específicos de linhagem celular. Em casos selecionados, análises moleculares para identificar alterações genéticas específicas (como translocações ou amplificações gênicas) são cruciais para o diagnóstico preciso.

Exemplos de subtipos histológicos comuns e suas características incluem:

  • Lipossarcoma: Neoplasia maligna de linhagem adipocítica. As variantes incluem o bem diferenciado/tumor lipomatoso atípico (frequentemente com amplificação do gene MDM2), mixoide (caracterizado pela translocação t(12;16) FUS-DDIT3 ou variantes), de células redondas, pleomórfico e desdiferenciado (progressão para um sarcoma de alto grau não lipogênico a partir de um lipossarcoma bem diferenciado ou mixoide).
  • Leiomiossarcoma: Derivado de células musculares lisas, podendo ocorrer no retroperitônio, útero, grandes vasos ou tecidos moles de extremidades.
  • Sarcoma Pleomórfico Indiferenciado (UPS): Anteriormente designado como fibro-histiocitoma maligno, é um diagnóstico de exclusão para sarcomas de alto grau que não demonstram uma linha clara de diferenciação por morfologia e IHC.
  • Rabdomiossarcoma (RMS): Originado de células precursoras de músculo esquelético, sendo o sarcoma de partes moles mais comum na população pediátrica. Principais subtipos são o embrionário e o alveolar.
  • Angiossarcoma: Neoplasia maligna de origem endotelial (vascular ou linfática). A IHC é essencial, com positividade para marcadores como CD31, CD34 e ERG.
  • Outros subtipos relevantes: Sarcoma sinovial, tumor maligno da bainha do nervo periférico (TMBNP), fibrossarcoma, entre diversos outros tipos mais raros.

A identificação precisa do subtipo histológico é vital, pois diferentes tipos apresentam comportamentos clínicos, padrões de metástase e sensibilidade a tratamentos (cirurgia, radioterapia, quimioterapia sistêmica) distintos.

Graduação Histológica

Paralelamente à classificação, a graduação histológica é um dos fatores prognósticos independentes mais importantes para os SPM. Seu objetivo é avaliar a agressividade biológica intrínseca do tumor, correlacionando-se fortemente com o risco de recidiva local e, principalmente, de desenvolvimento de metástases à distância. Sistemas de graduação robustos, como o da Federação Nacional Francesa de Centros de Câncer (FNCLCC), são amplamente utilizados e baseiam-se na avaliação semi-quantitativa de três parâmetros morfológicos:

  • Diferenciação Tumoral: Avalia o grau em que as células neoplásicas se assemelham ao seu suposto tecido de origem.
  • Índice Mitótico: Quantifica a atividade proliferativa através da contagem de figuras de mitose em áreas representativas do tumor (geralmente por 10 campos de grande aumento).
  • Necrose Tumoral: Avalia a porcentagem de necrose presente no tumor, um indicador de crescimento rápido e hipóxia.

A pontuação combinada desses fatores classifica os sarcomas em baixo grau (G1) ou alto grau (G2 e G3, dependendo do sistema), com implicações prognósticas significativas: tumores de alto grau têm maior probabilidade de metastatizar e estão associados a uma menor sobrevida global. A graduação histológica é um componente essencial do sistema de estadiamento TNM da AJCC (American Joint Committee on Cancer) e influencia diretamente as decisões terapêuticas, como a indicação de radioterapia adjuvante ou neoadjuvante e a consideração de quimioterapia sistêmica, especialmente em tumores de alto grau.

O índice de proliferação celular Ki-67, avaliado por imuno-histoquímica, representa a fração de células tumorais no ciclo celular ativo. Embora não seja formalmente parte de todos os sistemas de graduação, um alto índice de Ki-67 geralmente se correlaciona com alto grau histológico e pode fornecer informações prognósticas complementares.

Em resumo, a classificação histológica detalhada e a graduação tumoral são processos interdependentes e indispensáveis na avaliação dos SPM, fornecendo a base para a estratificação de risco, a previsão do comportamento clínico e a seleção da estratégia terapêutica mais adequada para cada paciente.

Etiologia e Fatores de Risco: Causas Genéticas e Ambientais

A etiologia dos sarcomas de partes moles (SPM) é complexa e multifatorial, integrando influências genéticas e ambientais. Embora a maioria dos casos surja esporadicamente, sem uma causa claramente definida, diversos fatores de risco foram identificados como contribuintes para o desenvolvimento dessas neoplasias.

Fatores Genéticos e Síndromes Hereditárias

A predisposição genética hereditária é um fator causal estabelecido em uma subpopulação de pacientes com SPM. Diversas síndromes de predisposição ao câncer estão associadas a um risco significativamente aumentado:

  • Neurofibromatose tipo 1 (Doença de von Recklinghausen): Causada por mutações germinativas no gene NF1, esta condição autossômica dominante aumenta o risco para tumores malignos da bainha do nervo periférico (TMBNP) e outros SPM, como o rabdomiossarcoma.
  • Síndrome de Li-Fraumeni: Associada a mutações germinativas no gene supressor de tumor TP53, confere alta predisposição a múltiplos tipos de câncer, incluindo sarcomas de partes moles e osteossarcomas em idades precoces.
  • Outras Síndromes Raras: Condições como a Síndrome de Werner, Síndrome de Beckwith-Wiedemann (associada a alterações genéticas na região cromossômica 11p15), Síndrome DICER1 e retinoblastoma hereditário também estão associadas a um risco aumentado de SPM.

Adicionalmente, alterações genéticas somáticas específicas, como translocações cromossômicas e amplificações gênicas, são características de determinados subtipos histológicos de SPM e desempenham papel crucial na sua patogênese, como detalhado na seção de classificação histológica.

Fatores Ambientais e Condições Associadas

Diversos fatores externos e condições preexistentes podem aumentar o risco de desenvolvimento de SPM:

  • Radiação Ionizante: A exposição prévia à radioterapia para tratamento de outras neoplasias é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de sarcomas induzidos por radiação na área tratada, tipicamente após um período de latência de vários anos. A exposição solar crônica também é um fator de risco para o angiossarcoma de couro cabeludo e face (Angiossarcoma de Wilson-Jones).
  • Exposição a Agentes Químicos: Certos produtos químicos, como cloreto de vinil e arsênico, demonstraram associação com um risco elevado de angiossarcoma, particularmente o subtipo hepático.
  • Linfedema Crônico: O linfedema persistente de longa duração, como o observado em membros após mastectomia com linfadenectomia axilar, constitui um fator de risco para o desenvolvimento de linfangiossarcoma, condição conhecida como Síndrome de Stewart-Treves. A fisiopatologia subjacente envolve disfunção da drenagem linfática, acúmulo de linfa e inflamação crônica local, que predispõem à transformação maligna das células endoteliais linfáticas.
  • Infecções Virais: O Herpesvírus Humano tipo 8 (HHV-8) é o agente etiológico reconhecido do Sarcoma de Kaposi, um tumor vascular.
  • Imunossupressão: Estados de imunodeficiência, seja iatrogênica (como em pacientes transplantados em uso de imunossupressores) ou adquirida (como na infecção pelo HIV/AIDS), aumentam a susceptibilidade ao Sarcoma de Kaposi associado ao HHV-8.

A identificação e compreensão destes fatores etiológicos e de risco são essenciais para a vigilância de populações de risco, diagnóstico precoce e desenvolvimento de estratégias preventivas e terapêuticas mais eficazes para os sarcomas de partes moles.

Abordagem Diagnóstica: Papel da Imagiologia e da Biópsia

A investigação de massas suspeitas de sarcoma requer uma abordagem sistematizada, fundamentada na integração de exames de imagem e na confirmação histopatológica obtida por biópsia. Este processo é essencial para determinar a natureza da lesão, seu subtipo histológico, grau de malignidade e extensão local, informações indispensáveis para o estadiamento preciso e o planejamento terapêutico individualizado.

Avaliação por Imagem

Os métodos de imagem desempenham um papel central na avaliação inicial e no planejamento subsequente. São utilizados para caracterizar a lesão primária, determinar seu tamanho, localização (superficial ou profunda), limites e relação com estruturas adjacentes críticas. A Ressonância Magnética (RM) é a modalidade de eleição para a avaliação de tumores de partes moles, especialmente nas extremidades, devido à sua superior capacidade de delinear a anatomia dos tecidos moles, a extensão tumoral e sua relação com estruturas neurovasculares e compartimentos fasciais. A RM fornece detalhes sobre as características internas do tumor, como necrose ou hemorragia, auxiliando no direcionamento da biópsia para áreas viáveis e no planejamento da ressecção cirúrgica. A Tomografia Computadorizada (TC) é particularmente útil na avaliação de possível envolvimento ósseo cortical, na detecção de calcificações intratumorais e é frequentemente empregada na avaliação de sarcomas retroperitoneais. A TC contrastada de tórax, abdome e pelve é o padrão para a pesquisa de metástases à distância, componente essencial do estadiamento.

Confirmação Histopatológica por Biópsia

O diagnóstico definitivo de sarcoma só pode ser estabelecido mediante análise histopatológica do tecido tumoral. A biópsia é fundamental não apenas para confirmar a malignidade, mas também para identificar o subtipo histológico específico e determinar o grau tumoral, fatores prognósticos e preditivos de resposta terapêutica cruciais. Salvo raras exceções, a biópsia deve preceder qualquer intervenção cirúrgica definitiva.

Uma exceção reconhecida à obrigatoriedade da biópsia prévia aplica-se a lesões retroperitoneais com características de imagem fortemente sugestivas de sarcoma e que se apresentam como totalmente ressecáveis. Nestas circunstâncias específicas, a ressecção cirúrgica primária pode ser considerada, baseando-se nos achados de imagem, reservando-se a biópsia para casos de dúvida diagnóstica ou para tumores considerados irressecáveis que podem ser candidatos a terapia neoadjuvante, evitando assim a disseminação tumoral pelo trajeto da agulha caso a ressecção não seja realizada imediatamente.

Técnicas de Biópsia

A escolha da técnica de biópsia deve considerar a localização e tamanho do tumor, a necessidade de obter material suficiente e representativo para análise histopatológica e imuno-histoquímica, e minimizar o risco de complicações e disseminação tumoral.

  • Biópsia por Agulha Grossa (Core Biopsy): É o método preferencial para a maioria das lesões suspeitas em tronco, membros e retroperitônio (quando indicada). Utiliza agulhas específicas (e.g., Trucut) para coletar múltiplos fragmentos cilíndricos de tecido, frequentemente sob orientação por imagem (Ultrassonografia – USG ou TC) para aumentar a precisão. Apresenta alta acurácia diagnóstica para determinação do tipo histológico e grau, comparável à biópsia incisional em muitas situações, com as vantagens de ser minimamente invasiva e reduzir o risco de contaminação ao longo do trajeto da agulha.
  • Biópsia Incisional: Consiste na remoção cirúrgica de um fragmento representativo do tumor através de uma incisão planejada. A incisão é geralmente realizada longitudinalmente sobre a massa, e a amostra é retirada para permitir uma avaliação precisa, especialmente em tumores heterogêneos onde uma amostra maior pode ser vantajosa. No entanto, é um procedimento mais invasivo, com potencial risco aumentado de hematoma e contaminação tecidual ao longo do plano de dissecção, o que pode exigir uma ressecção mais ampla do trajeto da biópsia durante a cirurgia definitiva.
  • Técnicas com Indicações Limitadas ou Contraindicadas: A biópsia excisional (remoção completa da massa como procedimento diagnóstico inicial) é geralmente contraindicada em lesões suspeitas de sarcoma (>3-5 cm ou profundas), pois frequentemente resulta em margens inadequadas e pode comprometer a ressecção oncológica definitiva subsequente, além de disseminar células tumorais. A Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) e a biópsia por punch geralmente não fornecem amostras de tecido suficientes para a análise histológica detalhada (arquitetura tecidual) e graduação necessárias no diagnóstico de sarcomas, não sendo as modalidades preferenciais.

Planejamento e Execução da Biópsia

A realização da biópsia exige planejamento rigoroso e deve ser executada, preferencialmente, por um cirurgião oncológico ou radiologista intervencionista com experiência no manejo de sarcomas. A escolha do local de acesso e do trajeto (da agulha ou da incisão) deve ser feita de modo a não contaminar compartimentos anatômicos adjacentes ou comprometer futuros retalhos para reconstrução, e a incisão deve ser planejada para ser completamente excisada em bloco com o tumor durante a cirurgia definitiva. O objetivo é minimizar o risco de implantação de células tumorais ao longo do trajeto da biópsia, garantindo uma amostra representativa e segura.

Estadiamento TNM e Padrões de Disseminação Metastática em Sarcomas de Partes Moles

Após a confirmação diagnóstica e a caracterização histopatológica, o estadiamento preciso é crucial para determinar a extensão da doença, guiar as decisões terapêuticas e estimar o prognóstico em pacientes com sarcomas de partes moles (SPM). O sistema de estadiamento TNM da AJCC (American Joint Committee on Cancer) é a ferramenta padrão utilizada globalmente para este fim.

O Sistema de Estadiamento TNM

O sistema TNM avalia componentes anatômicos e biológicos específicos do tumor:

  • T (Tumor): Descreve o tamanho e, em alguns casos, a extensão local do tumor primário. O tamanho é um fator prognóstico chave e um componente determinante do estágio T.
  • N (Nódulo Linfático Regional): Avalia a presença (N1) ou ausência (N0) de metástases em linfonodos regionais. É fundamental notar que, diferentemente de muitos carcinomas, o envolvimento linfonodal (metástase por via linfática) é um evento relativamente raro na maioria dos subtipos de SPM, refletindo a sua principal via de disseminação.
  • M (Metástase à Distância): Indica a presença (M1) ou ausência (M0) de metástases em órgãos distantes. A presença de metástases à distância classifica a doença como estágio IV.

Integralmente associado ao estadiamento TNM está o Grau Histológico (G) do tumor, previamente discutido em detalhe. A graduação (baixo ou alto grau), que reflete a agressividade biológica baseada em critérios como diferenciação, índice mitótico e necrose, é incorporada ao sistema de estadiamento para definir os grupos de estágio finais, sendo um fator prognóstico independente de grande impacto.

Vias e Padrões de Disseminação Metastática

A via de disseminação predominante para os sarcomas de partes moles é a hematogênica. Esta tendência está associada à sua origem mesenquimal e à propensão biológica para a invasão precoce de vasos sanguíneos. As células tumorais entram na corrente circulatória e podem estabelecer metástases em órgãos distantes. Em contraste, a disseminação por via linfática, embora possível em alguns subtipos histológicos específicos, é consideravelmente menos frequente do que a observada em carcinomas.

Os sítios mais comuns de metástases à distância por via hematogênica em SPM são:

  • Pulmões: Representam o local metastático mais frequente.
  • Fígado: É um sítio menos comum de metástase, cuja ocorrência pode estar associada a determinados subtipos histológicos ou a tumores de alto grau.
  • Outros Sítios: Ossos e cérebro são locais potenciais adicionais, embora menos comuns que os pulmões.

Estima-se que aproximadamente 10% dos pacientes com SPM apresentam metástases detectáveis à distância no momento do diagnóstico inicial, o que confere um prognóstico menos favorável. A investigação rotineira para detecção de metástases (estadiamento sistêmico) tipicamente inclui exames de imagem como a Tomografia Computadorizada (TC) contrastada de tórax, abdome e pelve.

Tratamento Multimodal dos Sarcomas: Cirurgia, Radioterapia e Quimioterapia

O manejo terapêutico dos sarcomas de partes moles (SPM) fundamenta-se em uma abordagem multimodal, integrando cirurgia, radioterapia (RT) e quimioterapia (QT). A estratégia ótima é individualizada conforme as características específicas do tumor (subtipo histológico, grau, tamanho, localização, extensão) e do paciente.

Cirurgia Oncológica

A ressecção cirúrgica ampla constitui o pilar do tratamento com intenção curativa para SPM localizados. Os objetivos e princípios técnicos cruciais incluem:

  • Ressecção em Bloco com Margens Negativas: O objetivo primário é a excisão completa do tumor, sem violar sua pseudocápsula, e com margens de tecido normal circunjacente livres de neoplasia. Idealmente, busca-se uma margem mínima de 1 a 2 cm, embora uma ressecção marginal possa ser considerada na proximidade de estruturas neurovasculares ou ósseas críticas, geralmente necessitando de terapia adjuvante complementar.
  • Avaliação Histopatológica das Margens: A confirmação de margens negativas é essencial para o controle local e está associada a melhores desfechos. Margens positivas frequentemente indicam a necessidade de re-excisão ou de radioterapia adjuvante.
  • Ressecção do Trajeto da Biópsia: O trajeto utilizado para a biópsia diagnóstica deve ser incluído na peça cirúrgica para minimizar o risco de implantação tumoral e recidiva local.
  • Reconstruções Complexas: Em casos de tumores adjacentes a estruturas vasculares importantes, pode ser necessário realizar ressecções segmentares com subsequente reconstrução vascular para alcançar a ressecção completa com margens adequadas.

Radioterapia (RT)

A RT é frequentemente empregada em combinação com a cirurgia para otimizar o controle local da doença, reduzindo o risco de recidiva.

  • Timing da RT: Pode ser administrada como neoadjuvante (antes da cirurgia) ou adjuvante (após a cirurgia). Ambas as abordagens apresentam taxas comparáveis de controle local. A RT neoadjuvante pode reduzir o volume tumoral, facilitar a ressecção cirúrgica, e possivelmente estar associada a menos efeitos colaterais tardios.
  • Indicações Principais: A RT adjuvante é frequentemente indicada para tumores de alto grau, lesões maiores (> 5 cm) ou profundas, e em casos de margens cirúrgicas positivas ou exíguas. A decisão sobre o uso e o momento da RT pondera os benefícios no controle local contra os potenciais efeitos adversos.
  • Uso Paliativo: A RT também pode ser utilizada como modalidade paliativa para controle de sintomas em doença avançada.

Quimioterapia (QT)

O papel da quimioterapia sistêmica é mais estabelecido em cenários específicos, refletindo a heterogeneidade de sensibilidade entre os subtipos de SPM.

  • Doença Metastática: A QT é o tratamento padrão para pacientes com SPM metastáticos.
  • Terapia Neoadjuvante: Pode ser considerada, muitas vezes em combinação com a RT, para tumores grandes, de alto grau ou inicialmente irressecáveis, visando reduzir o volume tumoral, facilitar a ressecção e tratar potenciais micrometástases. Esta abordagem é geralmente reservada a pacientes com bom estado geral (performance status) e para subtipos histológicos considerados quimiossensíveis.
  • Terapia Adjuvante: Seu uso após a cirurgia é considerado em casos selecionados de sarcomas localizados de alto risco (e.g., alto grau, > 5 cm), embora seu benefício absoluto na sobrevida global permaneça um tópico de pesquisa e debate para muitos subtipos.

A complexidade do tratamento dos sarcomas exige uma avaliação e planejamento por equipe multidisciplinar experiente, visando a combinação estratégica das modalidades terapêuticas para otimizar os resultados oncológicos e minimizar a morbidade.

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