Introdução ao Exame Físico

Estetoscópio posicionado sobre um livro aberto de anatomia humana, com ilustrações detalhadas do corpo.
Estetoscópio posicionado sobre um livro aberto de anatomia humana, com ilustrações detalhadas do corpo.

Propedêutica médica

Na medicina entende-se por propedêutica o conjunto de técnicas utilizadas para a elaboração de uma base a partir da qual o médico se orienta para chegar a um diagnóstico. As técnicas envolvem: informações orais; dados de exame físicooutros exames norteados pelo volume de conhecimento coletado. Todos auxiliam na obtenção de um diagnóstico final

Origem do termo:

Derivado do termo grego “propaideutikos”, significa “relativo a instrução, instrutivo”

Relação médico paciente

Como sabemos, o exame físico é um instrumento de suma importância na prática médica. Através dele validamos os dados colhidos na anamnese, identificamos sinais e sintomas e somos direcionados a definir um diagnóstico e implementar ações terapêuticas. Porém, para que o objetivo do exame físico seja alcançado, torna-se indispensável uma boa relação médico-paciente. Quando esta relação ocorre de forma harmoniosa, aumenta-se as chances de o paciente aderir ao tratamento e obter melhores resultados, assim como possibilita o médico a contribuir para melhorar a qualidade de saúde do mesmo.

O prontuário

O prontuário de um paciente é um documento legal, de conteúdo científico e sigiloso. Ele é a forma de comunicação oficial entre os profissionais de saúde que estão a frente do caso clínico de cada paciente. Desta forma, o médico deve anotar os dados colhidos na anamnese e no exame físico de forma fidedigna, clara, completa e utilizando os termos técnicos adequados. Assim, o próximo profissional que vai ler este prontuário, conseguirá dar prosseguimento ao atendimento com qualidade e segurança.

Etapas do Exame Físico

exame fisico etapas

Ectoscopia

É a denominação que se dá à avaliação global do doente. É a primeira. etapa do exame físico, devendo ser iniciada ao primeiro contato com o paciente. Seu objetivo é a obtenção de dados gerais (independe da queixa do paciente). A avaliação deve ser crânio-caudal.

O que Ectoscopia Avalia:

Postura

Ortostase, sedestação e decúbito (dorsal, lateral e ventral).

posicao anatomica

Atitude

Passiva ou Ativa (típica de alguma enfermidade ou atípica)

Atitude Passiva

O paciente fica na posição em que é colocado no leito

atitude passiva

Atitude Ativa

Atípica

É a atitude do paciente que não possui nenhuma enfermidade. Não possui características típicas de nenhuma patologia.

Típica

É a posição em que o paciente assume, afim de amenizar o sofrimento causado por determinada doença, podendo ser consciente ou não.

Exemplos:

Atitude típica de descerebração

descerebração

Atitude típica de pacientes com dificuldade respiratória como por exemplo: DPOC.

DPOC

Atitude Típica de Infarto

dor de infarto

Atitude típica de dor por pedra na vesícula

dor pedra na vesicula

Fácies

É a expressão facial do paciente que, por suas características peculiares, ajuda a identificar algumas patologias. Quando não lembra nenhuma enfermidade, é dita “fácies atípica”

Exemplos de fáceis típicas:

Fácies Cushingóide ou de Lua-Cheia

facies cushingoide

Caracteriza-se pelo Arredondamento do rosto, com presença de edema, bochechas avermelhadas e surgimento de acne. Observado no paciente com uso prolongado de corticoides (Cushing iatrogênico) e também nos casos da Síndrome de Cushing (hipertrofia do córtex das suprarrenais).

Fáceis Hipertireóides ou Basedowiana

Fáceis Hipertireóides ou Basedowiana

Traço caraterístico: Exoftalmia (olhos salientes; protrusão do globo ocular para fora da órbita). Rosto magro, com expressão fisionômica de vivacidade e às vezes aspecto de espanto e ansiedade. Presença de bócio. Típica do hipertireoidismo.

Fácies Hipocrática

Fácies Hipocrática

Caracteriza-se por olhos fundos, parados, inexpressivos. Nariz afilado e lábios delgados, com presença de “batimento” das asas do nariz. Rosto quase sempre coberto de suor. Típica de doença grave e estados agônicos, como por exemplo, caquexias.

Fácies Leonina

Fácies Leonina

Caracterizada por pele espessada, sendo sede de grande número de lepromas de tamanhos variados, em maior número na fronte. Os supercílios caem, o nariz se espessa e se alarga. Os lábios tornam-se mais grossos e proeminentes. Há deformidade da bochecha e do mento pelo aparecimento de nódulos. Barba escassa ou inexistente. Aspecto de cara de leão. Típico de paciente acometidos do Mal de Hansen (Hanseníase).

Fácies de Down

Fácies de Down

Elemento característico: Fenda palpebral. Há ainda a prega cutânea (epicanto) que torna os olhos oblíquos, bem distantes um do outro. Rosto redondo e boca quase sempre entreaberta. Fisionomia de pouca inteligência. Ex: Síndrome de Down.

Marcha

Assim com o “fácies”, alguns tipos de marcha são características de algumas patologias. A marcha também pode ser classificada como típica (de alguma doença) ou atípica (paciente não apresenta nenhuma enfermidade).

Marcha Atípica

Exemplos de Marcha Atípica:

Marcha em tesoura, espástica ou espasmódica

marcha em tesoura

Os dois membros inferiores enrijecidos e espásticos permanecem semifletidos, os pés se arrastam e as pernas se cruzam uma na frente da outra quando o paciente tenta caminhar. O movimento das pernas lembra uma tesoura em funcionamento.

Frequente em paralisias cerebrais, esclerose múltipla e paraparesia em MMI.

Marcha Parkinsoniana

Marcha parkinsoniana

O Paciente anda como um bloco, enrijecido, sem o movimento automático dos braços. A cabeça permanece inclinada para frente e os passos são miúdos e rápidos, dando a impressão de que o paciente “corre atrás do seu centro de gravidade” e vai cair para frente.

Frequente em pacientes portadores da doença de Parkinson

Marcha Claudicante

marcha claudicante

Ao caminhar, o paciente claudica (manca) para um dos lados quando apoia o membro inferior acometido.

Ocorre em casos de insuficiência arterial periférica e em lesões do aparelho locomotor.

Marcha Cerebelar

marcha ataxica

Ao caminhar o paciente realiza movimentos de “Zigzag”, como se estivesse “bêbado”. Os movimentos passam a ser incertos, inseguros e descoordenados, caracterizando a marcha atáxica.

Frequente em casos de lesões cerebelar.

Marcha Anserina

marcha anserina

O paciente caminha com rotação exagerada da pelve, arremessando ou rolando os quadris de um lado para o outro a cada passo, para deslocar o peso do corpo, assemelhando ao pato quando anda.

Visto com frequência em gestantes

Idade Aparente

É importante relatar a idade real do paciente e também a sua idade aparente

idade aparente
idade aparente 2

Biotipo

O biotipo é caracterizado pelo ângulo de Charpy que é a junção dos rebordos costais com o apêndice xifoide, caracterizando os biotipos:

  • LONGILÍNEO ou ECTOMORFO -> Â < 90°
  • NORMOLÍNEO ou MESOMORFO -> Â = 90°
  • BREVELÍNEO ou ENDOMORFO -> Â > 90°

angulo de charpy
biotipo

Respiração

Pode ser classificada como:

  • BRADPNÉICO – Abaixo de 14 irpm
  • EUPNÉICO – 14 A 20 irpm
  • TAQUIPNÉICO – Acima de 20 irpm

*adultos

Cianose

Coloração azulada da pele decorrente de oxigenação insuficiente do sangue (aumento da hemoglobina oxigenada ou de pigmentos hemoglobinicos anormais.

cianose

Icterícia

Caracterizado pela coloração amarela de tecidos e das secreções orgânicas, resultante da presença anormal de pigmentos biliares

ictericia criança

*ICTERÍCIA NEONATAL – CLASSIFICAÇÃO:

classificação de Kramer
ictericia olhos

Palidez

É a perda de coloração da pele, que pode ocorrer quando o corpo está com falta de sangue (vasoconstricção) ou por uma diminuição de glóbulos vermelhos no sangue (anemia).

palidez adulta

Edema

É o acumulo de líquido no tecido subcutâneo que ocorre quando os tecidos dentro dos vasos sanguíneos ou linfáticos extravasam da pele.

Hidratação

Fatores que influenciam na hidratação:

  • Alterações abruptas de peso
  • Alterações de pele quanto a elasticidade, umidade e turgor
  • Alterações oculares
  • Estado geral
  • Sede

Estado de Higiene

Observar: Hálito do paciente; odor de secreções, condições dentárias, pele, pêlos e fâneros.

unhas sujas
dentes estragados

Estado nutricional

Avaliado através do:

  • Peso
  • Panículo adiposo
  • Musculatura
  • Desenvolvimento físico
  • Estado geral
  • Pele
  • Pelos
  • Fâneros
  • Olhos

obesidade infantil
desnutrição

Lucidez

O nível de consciência do paciente pode ser classificado como:

  • Alerta – O paciente é responsivo
  • Sonolento – Quando não requisita o paciente dorme
  • Obnubilado – Sonolento + desorientado
  • Torporoso – Só abre os olhos com estímulos dolorosos. Apresenta redução da sensibilidade e movimentos corporais.
  • Coma – É o estado em que uma pessoa fica com a consciência comprometida e demonstra pouca ou nenhuma reação a estímulos, não sendo capaz de abrir os olhos, pronunciar palavras e nem obedecer a estímulos simples.

Humor

Pode ser classificado como:

  • Eutímico – Humor equilibrado
  • Triste
  • Eufórico
  • Irritado

Orientação

Avalia a qualidade de consciência em relação ao espaço e ao tempo.

Estado Geral

Avalia subjetivamente o conjunto de dados exibidos pelo paciente.

  • Bom estado geral
  • Estado geral regular ou levemente comprometido
  • Estado geral ruim ou muito comprometido

Bibliografia

  • PORTO, C.C. Semiologia Médica. 7a ed. Rio de janeiro. Guanabara, 2014;
  • https://semiologiamedica.ufop.br/ectoscopia
  • http://www.hcfmb.unesp.br/wp-content/uploads/2018/02/orientacoes_acamados-1.pdf
  • https://globoesporte.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/especial-publicitario/unimed-sao-jose-dos-campos/viver-bem-unimed-sjc/noticia/aprenda-a-reconhecer-os-sinais-de-pedras-na-vesicula.ghtml
  • https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-973.html

Artigos Relacionados

Um cérebro estilizado com conexões neurais brilhantes, representando a complexidade do exame neurológico.

Exame Neurológico

AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO CORTICAL SUPERIOR FUNÇÃO COGNITIVA   Nível de consciência: Alerta # Sonolento # Obnubilado # Torporoso # Coma Orientação # Tempo # Espaço

Estetoscópio posicionado sobre um abdômen estilizado, com detalhes anatômicos sutis.

Semiologia do Abdome

Inspeção estática Analisa-se: coloração, lesões elementares, circulação venosa colateral superficial, presença de estrias (prateadas antigas são normais), manchas hemorrágicas e a distribuição dos pelos. Simetria:

Ilustração de uma árvore brônquica estilizada, com raízes profundas e galhos que se assemelham a tubos, representando o sistema respiratório e a tosse.

Semiologia da Tosse

Semiologia da tosse A tosse é um reflexo de proteção do aparelho respiratório, como consequência de um processo irritativo. É um processo benéfico que impede

Um mapa anatômico estilizado com pontos pulsantes de dor em locais específicos.

Decálogo da Dor

Decálogo da dor Segundo a International Association for the Study of Pain,a dor é definida como “uma experiência emocional e sensorial desagradável associada a uma lesão

Um termômetro de mercúrio com a coluna vermelha subindo em direção a altas temperaturas, com chamas estilizadas ao fundo.

Semiologia da Febre

Febre Febre significa temperatura corporal acima da faixa da normalidade. Pode ser causada por transtornos no próprio cérebro ou por substâncias tóxicas que influenciam os

Últimos Artigos

Um pulmão inflado simbolizando a primeira respiração, com um cordão umbilical estilizado se desfazendo em segundo plano e veias e artérias em transição de azul para vermelho.

Fisiologia da Transição Neonatal e Circulação

Explore a fisiologia da transição neonatal e da circulação: as adaptações cardiorrespiratórias essenciais, desde a primeira respiração até os benefícios do clampeamento tardio do cordão umbilical.

Um cronômetro marcando o tempo ideal para o clampeamento do cordão umbilical, com o cordão umbilical em espiral ao redor.

Clampeamento Oportuno do Cordão Umbilical

O clampeamento oportuno do cordão umbilical é uma prática baseada em evidências que otimiza a saúde neonatal. Entenda como adiar o clampeamento beneficia recém-nascidos a termo e prematuros, melhorando reservas de ferro e reduzindo riscos. Saiba mais sobre esta importante intervenção.

Ilustração de um cordão umbilical com um clamp cirúrgico em um cenário de emergência médica.

Clampeamento Imediato do Cordão Umbilical

Explore as indicações essenciais para o clampeamento imediato do cordão umbilical e compreenda as situações críticas em obstetrícia onde esta intervenção rápida é vital para a segurança materno-fetal.