HIV.

Em 1983 o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) foi isolado e em 1984 sua relação causal com a Aids estabelecida. Em 1985, surgiu a primeira geração de testes diagnósticos, permitindo a surpreendente constatação de que o HIV – naquela altura- já havia se espalhado por todo globo terrestre, numa verdadeira pandemia da infecção.

O Vírus

O HIV é um retrovírus. O que significa que ele é um vírus de RNA que para infectar o ser humano necessita ter seu material genético transcrito de forma “reversa” em DNA, o único que pode se integrar ao genoma e ditar a síntese das proteínas virais utilizando a maquinaria enzimática do hospedeiro!

A enzima transcriptase reversa (uma DNA-polimerase) é essencial para a replicação do HIV, pois traduz o RNA viral em DNA dupla-fita. Sem ela, o vírus não conseguiria infectar o homem…

o vírus HIV

Morfologia

Morfologicamente, o vírion do HIV (vírion = partícula viral completa infectante fora da célula) é uma partícula icosaédrica de cuja superfície despontam espículas formadas por glicoproteínas (gp120 e gp41). Quando o vírus brota da célula infectada ele carreia consigo um envoltório lipoproteico roubado de sua membrana e, nesse “envelope externo”, além das glicoproteínas virais encontram-se moléculas oriundas do hospedeiro, como o complexo principal de histocompatibilidade (MHC). O HIV contém ainda um capsídeo (envelope interno) composto pelo antígeno p24. Dentro do capsídeo estão encerrados o genoma viral (RNA) e enzimas como a transcriptase reversa.

A GP120 é uma glicoproteína de superfície que reconhece e faz a adesão a célula de defesa CD4+ e a GP41 é uma glicoproteína transmembrana (atravessa a bicamada lipídica). Essas duas glicoproteínas de superfície são importantes no mecanismo de reconhecimento da célula alvo e de penetração do vírus nessa célula.

Tipos de HIV

Há dois tipos principais do vírus: HIV-1 e HIV-2. Cada tipo é dividido em grupos: M, N, P e O para o HIV-1; de A a G para o HIV-2. Cada grupo, por sua vez, é subdividido em “clades”, em função de pequenas diferenças genéticas (as clades podem se recombinar entre si se o paciente for infectado por dois ou mais vírus diferentes, originando as Formas Recombinantes Circulantes ou CRF’s).

O grande responsável pela maioria dos casos de Aids no mundo é o HIV-1 do grupo M (“M” de Major).

O HIV-1 é uma espécie pandêmica, mais virulenta, sofre mais mutações que o 2, é mais “agressivo” e causam mais depleção de células “T” e as doenças oportunistas que são geradas na AIDS.  sendo o HIV-2 encontrado quase que exclusivamente no oeste da África.

Fisiopatologia

Um fato marcante na biologia do HIV é sua incrível capacidade de evoluir e se diversificar! Esta capacidade, inclusive, é uma das explicações de porquê o hospedeiro não consegue erradicar a infecção (é como se o vírus estivesse sempre “um passo à frente” da resposta imune adaptativa) Tal processo é consequência da baixa fidelidade da enzima transcriptase reversa, A enorme velocidade com que o vírus se replica, aliada ao grande número de mutações que surgem a cada ciclo, permite a rápida aquisição de características vantajosas que garantem ao vírus escapar da pressão seletiva. Tal fato também justifica o surgimento de resistência às drogas antirretrovirais (se estas forem utilizadas de maneira incorreta) bem como a atual impossibilidade de se criar uma vacina que contemple todas as “quase-espécies” do HIV.

Invasão Celular

O primeiro evento é a ligação da GP 120 a molécula de CD4+ presente na superfície da célula hospedeira. Três tipos celulares principais expressam o CD4+ que são: Linfócito T helper, Monócito-Macrófago e a célula dendrítica – cel de langerhans e portanto, são essas células primariamente infectadas pelo HIV.

A interação com o CD4 promove uma mudança conformacional na gp120 que expõe o sítio de ligação de um correceptor.

Dois correceptores podem estar presentes nas células hospedeiras:

CCR5 e CXCR4. A ligação do correceptor, por sua vez, produz mais uma mudança conformacional que leva à exposição da gp41 (que estava “escondida” embaixo da gp120). É a gp41 que realiza a FUSÃO entre o envelope externo do vírus e a membrana da célula. O passo subsequente à fusão é a inoculação do capsídeo (envelope interno contendo o genoma e enzimas virais) no citoplasma.

No interior do citoplasma, tem início o processo de transcrição reversa. Quando a transcrição do RNA genômico em DNA dupla-fita termina o capsídeo se abre liberando o DNA proviral. Contudo, para que o DNA proviral penetre o núcleo da célula é preciso que a mesma esteja ATIVADA (os poros do núcleo da célula hospedeira estejam abertos através de estímulos imunogênicos)… Quando isso acontece, o DNA proviral é “costurado” ao DNA humano por ação da enzima viral integrase.

Uma vez integrado ao genoma do hospedeiro, o DNA proviral começa a ser “lido” e, tanto RNA mensageiro quanto RNA genômico começam a ser sintetizados. O RNAm é traduzido em proteínas… Essas, por sua vez, se organizam próximo à membrana plasmática, onde são clivadas pela enzima viral protease tornando-se funcionalmente ativas. O capsídeo é então montado (com incorporação do RNA genômico e enzimas), e brota da superfície

celular “roubando” parte de sua membrana (que constitui o envelope externo do vírus). A progênie viral recém-liberada está pronta para infectar novas células.

Apesar de o HIV não ser uma síndrome Mono-like, ele pode causar uma síndrome semelhante, ou seja, apresentar características clínicas da monolike, mas o HIV é realmente uma desordem com destruição do sistema Linfóide. Além disso, o HIV pode complicar a mononucleose infecciosa e o citomegalovírus. Inclusive, das 4 síndromes monolikes, EBV, citomegalovírus, toxoplasma e o HIV, este último é o único capaz de desorganizar o tecido linfóide, os outros 3 não desorganizam.

 

A doença causada pelo HIV é essencialmente caracterizada por uma queda progressiva na contagem de linfócitos T CD4+ (linfócitos T helper). A perda dessas células ― que têm o papel de “maestros” do sistema imune – resulta no aparecimento de infecções e neoplasias oportunistas, culminando num estado de profunda imunodeficiência.

Diversos são os modos pelos quais o HIV compromete os linfócitos T CD4+… Ocorre destruição direta pela replicação viral (efeito citopático), mas também destruição indireta mediada pelo próprio sistema imune do hospedeiro, que reconhece e agride as células infectadas (ex.: citotoxicidade de linfócitos T CD8+, células natural killer e anticorpos anti- HIV). Ocorrem ainda os fenômenos de “exaustão celular” ou anergia (disfunção qualitativa) e apoptose (morte celular programada), ambos desencadeados pela ativação imune exagerada.

 A replicação viral nos gânglios linfáticos regionais leva a viremia e semeadura generalizada do tecido linfoide. A viremia é controlada por resposta imune do hospedeiro, e depois o indivíduo entra em uma fase de latência clínica. Durante essa fase a replicação viral em linfócitos T e em macrófagos não diminui, mas há uma contenção imune do vírus.

Segue uma perda progressiva do CD4+ por infecção produtiva. Em consequência, o número de células CD4+ diminui progressivamente e o paciente desenvolve sintomas clínicos de AIDS. Além da diminuição das células CD4+, as células auxiliares sobreviventes também ficam comprometidas pelo vírus.

Os macrófagos também são parasitados pelos vírus inicialmente, mas eles não são lisados pelos vírus, e transportam o vírus aos tecidos, particularmente o cérebro.

Mecanismo HIV

Síndrome Retroviral aguda

40 a 90% dos indivíduos infectados podem desenvolver a síndrome retroviral aguda -que tem uma apresentação monolike. Entre 3 a 6 semanas após a infecção vai ocorrer a sintomatologia: Irritação da orofaringe, febre, perda de peso, cansaço (parece uma gripe) e se resolve espontaneamente dentro de 3 a 4 semanas.

O período de soroconversão do indivíduo exposto ao HIV, geralmente é variável (vai variar em média entre 2 a 3 meses) Mas já existem relatos na literatura de indivíduos que só soroconverteram, ou seja, deixaram de ser negativos para positivos – só passaram a produzir anticorpos anti-HIV no soro, a partir de 6 meses.

A infecção

Adquirida pela via sexual, logo, o primeiro contato entre o vírus e o hospedeiro costuma se dar na mucosa genital. O HIV pode atravessar o epitélio de uma mucosa íntegra “pegando carona” em células dendríticas (que transitam entre esta camada e a lâmina própria) ou pode ser diretamente inoculado na lâmina própria através de uma solução de continuidade na mucosa (ex.: DST ulcerativa). Uma vez na

submucosa ele procura as células CD4+, em geral linfócitos T helper dispersos pelo interstício.

Esses linfócitos podem estar em repouso, parcialmente ativados ou ativados, sendo que a cada momento existem proporções variáveis de células em cada estado (ex.: se houver uma DST, haverá mais células ativadas). São as células “ativadas” as responsáveis pelos primeiros ciclos de replicação viral no organismo (primeiras horas da infecção)! Os vírions produzidos nesta etapa são drenados para os linfonodos regionais, onde encontram uma grande concentração de alvos suscetíveis

(isto é, mais linfócitos TCD4 + ativados). A partir daí a multiplicação viral se torna exponencial e o HIV invade a corrente circulatória atingindo a cifra de bilhões de cópias por ml nas próximas semanas (pico inicial de viremia), disseminando-se por todos os órgãos e tecidos do corpo.

 

Essa amplificação inicial do HIV será “freada” pelo surgimento de uma poderosa resposta imune adaptativa especificamente voltada contra ele (que utiliza os braços celular e humoral da imunidade). No entanto, tal resposta consegue apenas um controle parcial da viremia (fazendo-a cair em proporções variáveis).

As demais formas de aquisição do HIV resultam em inoculação direta do vírus na corrente sanguínea (ex.: transfusão, uso de drogas injetáveis, intraútero etc.). Em tais cenários, os vírions circulantes são primariamente removidos pelo baço (também rico em células CD4+, como macrófagos e linfócitos T). Daí em diante, a mesma sequência de eventos já explicada pode ser deduzida… A dinâmica da transmissão pelo aleitamento materno é de certa forma semelhante à sexual, com a diferença que o primeiro contato com o vírus se dá na mucosa intestinal.

Bibliografia

  • https://pt.scribd.com/document/426133227/Problema-9
  • INFECTO – VOL 2 Sindrome da Imunodeficiencia Adquirida, AIDS – medcurso2017
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Estudante de Medicina, Fonoaudióloga e Autora do Blog Resumos Medicina

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