Histologia dos Órgãos Linfóides

Ilustração de um corte transversal do timo, mostrando o córtex denso e a medula com corpúsculos de Hassall.
Ilustração de um corte transversal do timo, mostrando o córtex denso e a medula com corpúsculos de Hassall.

Órgãos linfóides

Os órgãos linfóides são classificados em duas categorias:
Os órgãos linfóides primários (centrais) são responsáveis pelo desenvolvimento e pela maturação dos linfócitos, tornando-os células maduras e imunocompetentes. 

Os órgãos linfóides secundários (periféricos) são responsáveis pelo ambiente adequado no qual as células imunocompetentes podem reagir umas com as outras, assim como com antígenos e outras células, para montarem uma resposta imunológica contra antígenos ou agentes patogênicos invasores.

Em humanos, o fígado fetal, a medula óssea prénatal e pós-natal e o timo constituem os órgãos linfóides primários. Os linfonodos, o baço e os tecidos linfóides associados às mucosas (assim como a medula óssea pós-natal) constituem os órgãos linfóides secundários

Timo

O timo é um órgão linfóide primário que é o local de maturação dos linfócitos T. O timo, situado no mediastino superior e se estendendo por sobre os grandes vasos do coração, é um pequeno órgão encapsulado composto por dois lobos. Cada lobo origina-se separadamente da terceira (e possivelmente da quarta) bolsa faríngea do embrião.

Os linfócitos T originados do mesoderma penetram o timo e recebem instruções para se tornarem imunologicamente competentes. O timo origina-se precocemente no embrião e continua a crescer até a puberdade, quando pode pesar de 35 a 40 g. Após os primeiros anos de vida, o timo começa a involuir (atrofiar) e torna-se infiltrado por células adiposas. Entretanto, ele pode continuar a funcionar até mesmo em adultos idosos.

Da cápsula do timo, composta por tecido conjuntivo denso não modelado, partem septos que penetram os lobos subdividindo-os em lóbulos incompletos. Cada lóbulo é constituído por um córtex e uma medula, embora o córtex e a medula de lóbulos adjacentes sejam confluentes.

 

Cortéx do timo

Histologicamente, o córtex do timo tem um aspecto muito mais escuro do que a medula, por causa da presença de um grande número de linfócitos T (timócitos). As células T imunologicamente incompetentes (células progenitoras das linhagens de linfócitos T) deixam a medula óssea e migram para a periferia do córtex do timo, onde elas proliferam intensamente e são instruídas a tornarem-se células T imunocompetentes. Além dos linfócitos, o córtex contém macrófagos e células reticulares epiteliais. Acredita-se que, em humanos, as células reticulares epiteliais se originem do endoderma da terceira (e possivelmente da quarta) bolsa faríngea.

Três tipos de células reticulares epiteliais estão presentes no córtex do timo:

As células do tipo I separam o córtex da cápsula de tecido conjuntivo e das trabéculas, e envolvem os elementos vasculares do córtex. Estas células formam junções de oclusão umas com as outras, isolando completamente o córtex do timo do restante do corpo. Os núcleos das células do tipo I são polimorfos e têm um nucléolo bem definido.

As células do tipo II estão localizadas no córtex intermediário. Estas células têm longos prolongamentos largos e semelhantes a bainhas, que formam junções do tipo desmossomas umas com as outras. Estes prolongamentos formam um retículo celular que subdivide o córtex do timo em pequenos compartimentos cheios de linfócitos. Os núcleos das células do tipo II são grandes, palidamente corados e com pouca heterocromatina. O citoplasma também é claro e é muito rico em tonofilamentos (filamentos de citoqueratinas).

As células do tipo III estão localizadas no córtex profundo e na junção corticomedular. O citoplasma e os núcleos destas células são mais densos do que os das células reticulares epiteliais dos tipos I e II. O RER das células do tipo III apresentam cisternas dilatadas, o que é indicativo de síntese protéica. As células reticulares epiteliais do tipo III também têm prolongamentos largos, semelhantes a bainhas, que formam compartimentos cheios de linfócitos. Estas células participam na formação de junções de oclusão umas com as outras e com células reticulares epiteliais da medula; isto isola o córtex da medula.

Medula do timo

A medula do timo cora-se muito menos intensamente do que o córtex porque sua população de linfócitos não é tão abundante e porque contém um grande número de células reticulares epiteliais derivadas do endoderma.

Existem três tipos de células reticulares epiteliais na medula:

As células do tipo IV são encontradas em íntima associação com as células do tipo III do córtex e participam da formação da junção corticomedular. Os núcleos destas células têm uma malha grosseira de cromatina, e seu citoplasma se cora fortemente e é rico em tonofilamentos.

As células do tipo V formam o retículo celular da medula. Os núcleos destas células são polimorfos, com uma malha de cromatina perinuclear bem definida e um evidente nucléolo.

As células do tipo VI constituem a característica mais típica da medula do timo. Estas células grandes, palidamente coradas, coalescem umas em torno das outras, formando os corpúsculos tímicos (ou corpúsculos de Hassall) cujo número aumenta com a idade da pessoa. As células do tipo VI podem tornar-se altamente queratinizadas e até mesmo calcificadas.

 

Ao contrário das células reticulares epiteliais do tipos IV e V, as células reticulares epiteliais tipo VI podem ser de origem ectodérmica. A função dos corpúsculos tímicos é desconhecida, embora eles possam ser o local de morte dos linfócitos T na medula.

Linfonodos

Os linfonodos estão localizados em várias regiões do corpo, mas são mais freqüentes no pescoço, nas axilas, nas virilhas, ao longo dos grandes vasos e nas cavidades do corpo. Seu parênquima é constituído por coleções de linfócitos T e B, APCs e macrófagos. Estas células linfóides reagem à presença de antígenos através da montagem de uma resposta imunológica na qual macrófagos fagocitam bactérias e outros microrganismos que chegam ao linfonodo através da linfa.

Cada linfonodo é um órgão macio, relativamente pequeno, com menos de 3 cm de diâmetro, e que tem uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso, geralmente envolvida por tecido adiposo. Ele tem uma superfície convexa perfurada pelos vasos linfáticos aferentes, dotados de valvas, que garantem que a linfa vinda dos vasos entre no linfonodo. A superfície côncava do linfonodo, o hilo, é o local em que as artérias e as veias entram e saem do linfonodo. Além disso, a linfa sai do linfonodo através dos vasos linfáticos eferentes, que também estão localizados no hilo. Os vasos linfáticos eferentes têm valvas que previnem o refluxo da linfa para o linfonodo.

Cortéx do linfonodo

A cápsula, constituída por tecido conjuntivo denso não modelado, envia trabéculas para o tecido linfóide do linfonodo, subdividindo a região externa do córtex em compartimentos incompletos, que se estendem até as proximidades do hilo. A cápsula é mais espessa no hilo, e à medida que os vasos que entram no parênquima do linfonodo, eles vão sendo revestidos por uma bainha de tecido conjuntivo derivado da cápsula.

Suspensa da cápsula e das trabéculas há uma rede tridimensional de tecido conjuntivo reticular que forma a estrutura de sustentação de todo o linfonodo. Os vasos linfáticos aferentes perfuram a superfície convexa da cápsula do linfonodo e lançam a linfa no seio subcapsular, que está localizado logo abaixo da cápsula.

Este seio é contínuo com os seios corticais (seios peritrabeculares ou corticais), que são paralelos às trabéculas, e destes a linfa vai para os seios medulares, e finalmente entra nos vasos linfáticos eferentes. Estes seios são formados por tecido linfonóide frouxo, que possuem uma rede de células reticulares estreladas cujos prolongamentos estão em contato com os de outras células e um revestimento semelhante a um endotélio.

Os macrófagos, ligados às células reticulares estreladas, fagocitam avidamente partículas estranhas. Além disso, as células linfóides podem entrar ou sair dos seios passando por entre as células reticulares que os revestem

Paracórtex

As APCs (p. ex., células de Langerhans da pele ou células dendríticas das mucosas) migram para a região paracortical do linfonodo para apresentar seu complexo epitopo-MHC classe II para as células TH. Quando as células TH se tornam ativadas, elas proliferam, aumentando a largura da zona paracortical a tal ponto que esta pode avançar profundamente na medula. As células T recémformadas migram para os seios medulares, saem do linfonodo e dirigem-se para a área de atividade antigênica. As vênulas de endotélio alto (HEVs, High Endothelium Venules) estão localizadas no paracórtex.

Os linfócitos saem dos vasos sangüíneos migrando por entre as células cubóides deste endotélio incomum e entram no tecido linfóide do linfonodo. As células B migram para o córtex externo, enquanto as células T permanecem no paracórtex. A membrana plasmática dos linfócitos expressa moléculas de superfície, denominadas selectinas, que auxiliam a célula no reconhecimento das células endoteliais das HEVs e permitem o rolamento ao longo da superfície destas células. Quando o linfócito entra em contato com as moléculas sinalizadoras adicionais que estão localizadas na membrana plasmática da célula endotelial5, as selectinas tornam-se ativadas, ligando-se firmemente à célula endotelial e interrompendo a ação de rolamento do linfócito. Então, através de diapedese, o linfócito migra entre as células endoteliais cubóides para sair do lúmen de uma vênula pós-capilar e entrar no parênquima do linfonodo.

Medula

As células dos cordões medulares (linfócitos, plasmócitos e macrófagos) estão emaranhadas em uma rede de fibras reticulares e células reticulares. Os linfócitos migram do córtex para os seios medulares, de onde eles entram nos vasos linfáticos eferentes e saem do linfonodo. Cortes histológicos da medula também mostram a presença de trabéculas, originadas da cápsula espessa do hilo, contendo vasos sangüíneos que entram e saem do linfonodo.

Veja também

Histologia do baço

Bibliografia

Gartner, L. P. & Hiatt, J. L. Tratado de Histologia em Cores. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

Junqueira, L.C. & Carneiro, J. Histologia Básica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004

Artigos Relacionados

Ilustração detalhada da estrutura interna do baço, com foco nos sinusóides da polpa vermelha, cordões esplênicos e arteríolas.

Histologia do Baço

Baço O baço é o maior acúmulo de tecido linfoide do organismo e, no ser humano, o único órgão linfoide interposto na circulação sanguínea. Em

Ilustração de um néfron com seus componentes em destaque.

Histologia do Sistema Urinário

Rins Tem formato de grão de feijão, apresentando uma borda convexa e outra côncava, na qual se situa o hilo. O hilo é onde entram

Representação esquemática das camadas de um vaso sanguíneo com destaque para as túnicas íntima, média e adventícia.

Histologia dos Vasos Sanguíneos

Introdução Os vasos sanguíneos formam uma rede de tubos que transportam o sangue pelo corpo. Esses tubos possuem diferentes diâmetros e fazem circular o sangue

Ilustração detalhada da estrutura interna de um brônquio, mostrando suas camadas e componentes.

Histologia do Sistema Respiratório

Cavidade Nasal Aquece, umedece e limpa o ar antes de sua entrada nos pulmões. cavidade nasal vista de cima -VESTÍBULO – Porção anterior queratinizada da

Ilustração detalhada do pâncreas, mostrando sua estrutura lobular, o ducto pancreático e a localização das ilhotas de Langerhans.

Histologia do Pâncreas

Pâncreas O pâncreas é tanto uma glândula exócrina, que produz sucos digestivos, quanto uma glândula endócrina, que produz hormônios. O pâncreas, situado na parede posterior

Últimos Artigos

Um pulmão inflado simbolizando a primeira respiração, com um cordão umbilical estilizado se desfazendo em segundo plano e veias e artérias em transição de azul para vermelho.

Fisiologia da Transição Neonatal e Circulação

Explore a fisiologia da transição neonatal e da circulação: as adaptações cardiorrespiratórias essenciais, desde a primeira respiração até os benefícios do clampeamento tardio do cordão umbilical.

Um cronômetro marcando o tempo ideal para o clampeamento do cordão umbilical, com o cordão umbilical em espiral ao redor.

Clampeamento Oportuno do Cordão Umbilical

O clampeamento oportuno do cordão umbilical é uma prática baseada em evidências que otimiza a saúde neonatal. Entenda como adiar o clampeamento beneficia recém-nascidos a termo e prematuros, melhorando reservas de ferro e reduzindo riscos. Saiba mais sobre esta importante intervenção.

Ilustração de um cordão umbilical com um clamp cirúrgico em um cenário de emergência médica.

Clampeamento Imediato do Cordão Umbilical

Explore as indicações essenciais para o clampeamento imediato do cordão umbilical e compreenda as situações críticas em obstetrícia onde esta intervenção rápida é vital para a segurança materno-fetal.