Caso Clínico - Sistema Nervoso III.

Os   estudantes   de   medicina   e   a   ACS   Zulmira visitaram a casa do SR Juvenal de 65 anos, ele mora com sua filha Mariá. Sr Juvenal é hipertenso há 35 anos,  mas  não  segue  as  recomendações  médicas. Mariá contou à ACS Zulmira que no ano passado ele teve   uma   “crise”   muito   forte   que   precisou   ser internado  e  ficou  sem  conseguir  movimentar  uma parte  do  lado  direito  do  rosto  e  não  levantava  o braço direito. A ACS aferiu a pressão arterial a qual estava  alta. Os estudantes  de  medicina  fizeram as recomendações para o controle da pressão arterial e marcaram uma consulta na UBS

Anatomia vascular do SNC

A  irrigação  do  encéfalo  é  feita  através  de  dois sistemas arteriais: o Carotídeo (levam o sangue do coração   ao   longo   da   frente   do   pescoço)   –   é composto por duas artérias    e  o  Vértebro-basilar ( levam o sangue do coração ao longo da parte de trás   do   pescoço)   também   composto   por   duas artérias. Podemos ainda chamar o sistema carotídeo de circulação anterior e o sistema vértebro-basilar de circulação  posterior.  Essas  quatro  artérias  se fundem para formar o círculo de Willis, na base do cérebro.

As    artérias,    originadas    do    círculo    de    Willis, percorrem a superfície do cérebro e dão origem às artérias piais que se ramificam em vasos menores, chamados  artérias  e  arteríolas  de  penetração.  Os vasos   penetrantes   são   levemente   separados  do tecido cerebral pelo extenso espaço subaracnóide, denominado  espaço  de  Virchow-Robin.  Os  vasos penetrantes mergulham no tecido cerebral, dando origem       às       arteríolas       intracerebrais,       que eventualmente  se  ramificam  em  capilares,  onde ocorre  a  troca  de  oxigênio,  nutrientes,  dióxido  de carbono e metabólitos entre o sangue e os tecidos

arteríola penetrante
vascularização do sistema nervoso

Sistema Carotídeo ou Circulação Anterior

O sistema carotídeo, como o próprio nome indica, é formado pelas artérias carótidas internas, ramos de bifurcação  das  carótidas  comuns.  Cada  carótida interna penetra no crânio através do canal carotídeo e se bifurca nas artérias cerebrais anterior e média.

Antes   de   se   bifurcarem,   porém,   cada   carótida interna  emite  uma  artéria  oftálmica,  que  nutre  o globo ocular.

A  artéria  cerebral  média  é  a  artéria  que  possui  o maior território de irrigação no encéfalo e também a mais acometida nas doenças cerebro-vasculares! Logo depois da sua emergência, ela ganha o sulco lateral e emite as artérias lenticuloestriadas. Essas artérias  nutrem  os núcleos  da  base  e  a  cápsula interna.

Essa  última  estrutura  (cápsula  interna)  representa nada  mais  nada  menos  que  a  junção  de todas  as fibras eferentes e aferentes que fazem sinapse no córtex  cerebral.  Ou  seja,  o  axônio  de  qualquer neurônio sensitivo ou motor (que sai ou que chega no   córtex,   respectivamente)   passa   pela   cápsula interna. A  cerebral  média  segue  para  o  cérebro  e  irriga  a maior parte de sua face súperolateral, incluindo os lobos frontal e parietal, e a parte anterior do lobo temporal.

A  cerebral  anterior,  por  sua  vez,  situa-se  na face medial do   cérebro,   irrigando  os   lobos   frontal  e parietal. Seu território ainda inclui a parte mais alta desses    lobos    na    face    súperolateral    de    cada hemisfério.

artéria carótida comum e interna

Artéria Vertebro-Basilar ou Circulação Posterior

O    sistema    vértebro-basilar    tem    sua    origem nas artérias     vertebrais,     ramos     das     artérias subclávias. Elas  ascendem,  uma  de  cada  lado,  no  pescoço, penetram no crânio através do forame magno, e no sulco   bulbo-pontino   se   anastomosam   formando a artéria basilar.

A  terceira  artéria  cerebral,  a cerebral  posterior,  é um   ramo   da   artéria   basilar.   Ela   é   responsável, basicamente    pela    irrigação    do lobo    occipital. Também   contribui   para   a   irrigação   da   parte posterior do lobo parietal e da face inferior do lobo temporal,  mas  a  associação  imediata  é:  Artéria cerebral posterior – Lobo occipital.

O sistema vértebro-basilar ainda emite artérias que nutrem o tronco encefálico e o cerebelo.

Arterias subclavias, vertebrais e basilar

OBS:

territórios de irrigação

OBS: conhecendo a neuroanatomia funcional que vamos deduzir a artéria ou as artérias acometidas, a partir  dos sinais  e  sintomas de  um  paciente  cujo contexto clínico nos faça suspeitar de um AVC! O    encéfalo    é    dividido    em  três    componentes:

  • cérebro, tronco encefálico e cerebelo.
neuroanatomia

Subdivisões do Cérebro

O  cérebro  apresenta cinco  lobos,  frontal,  parietal, temporal,    occipital    e    a    ínsula,    e três    faces: súperolateral, medial e inferior.

Em  linhas  gerais,  o  lobo  frontal  está  relacionado com a motricidade e com o comportamento.

Área Frontal Do Cérebro

É   nesse   lobo   que   se   encontra   a área   motora primária, no giro pré-central. Os neurônios situados nessa   área   são   os   responsáveis   pelo   comando cortical     da     motricidade     e     são     chamados de neurônios motores superiores. Seus    axônios    se    agrupam    formando    o    trato corticoespinhal, sendo que a grande maioria desses axônios cruza   o   plano   mediano no   bulbo,   mais especificamente    na    chamada    decussação    das pirâmides. 

Por  essa  razão,  o  acometimento  dos  neurônios motores   superiores   acima   da   decussação   das pirâmides    causará    déficit    motor contralateral à lesão.

Por exemplo, um AVC que acometeu a área motora primária direita vai causar hemiparesia à esquerda.

Além  disso,  a  nossa  motricidade  segue  o  princípio da somatotopia:  existem  áreas  de  representação cortical para os segmentos corporais. E as áreas de representação    são proporcionais    ao    grau    de especialização dos movimentos realizados de cada segmento, não ao seu tamanho.

omunculo

OBS: As áreas de representação cortical da maioria dos segmentos do nosso corpo estão localizadas na face  súperolateral  do  cérebro, exceto  o  membro inferior que está representado na face medial.

OBS: a área pré-motora, muitas vezes denominada apenas de área 6 localiza-se imediatamente a frente da    área    motora    primária    e    apresenta    uma organização  topográfica  muito  semelhante   à  do córtex   motor   primário.  A   maioria   dos   impulsos gerados  nesta  área  relaciona-se  com  padrões  de movimento  envolvendo  grupos  de  músculos  que realizam   tarefas   específicas.   Para   atingir   esses objetivos,  a  área  pré-motora  ou  atua  diretamente sobre o córtex motor primário excitando múltiplos grupos de músculos  ou indiretamente  via gânglios da base e tálamo com retorno ao córtex primário. Os neurônios motores superiores desse córtex pré- motor  influenciam  o  comportamento  motor  tanto através  de  extensas  conexões  reciprocas  com  o córtex motor primário como através de axônios que se      projetam      pelas      vias      corticobulbar      e corticoespinhal  para  influenciar  circuitos  locais  e motoneurônios inferiores do tronco encefálico e da medula espinhal. Todas as áreas corticais recebem aferências  regulatórias  dos  gânglios  da  base  e  do cerebelo     através     de     conexões     no     tálamo ventrolateral   bem   como   aferências   das   regiões somatossensoriais do lobo parietal.

Cerebelo e Núcleos da Base

A  complexidade,  a  velocidade  e  a  precisão  dos movimentos  que  produzimos  exige  um  sofisticado sistema de controle que se encarregue de verificar, permanentemente, se cada movimento se inicia no instante  correto,  se  é  executado de  acordo  com  a necessidade   ou   a   intenção   do   executante  e,  se termina  no  momento  adequado.  Tal é a função de dois  agrupamentos  neurais  muito  importantes;o cerebelo e os núcleos da base.

Ambos    são    estruturas    controladoras,    e    não ordenadoras.    Não    participam    diretamente    do comando  motor, mas  sim  da  preparação  para  o movimento  e  do  controle  on  line  da  harmonia  de combinação  dos  múltiplos  movimentos   que  são executados ao mesmo tempo e em sequência pelo  indivíduo.  Coerentemente,  tanto  o  cerebelo quanto os núcleos da base se caracterizam por não possuir  acesso  direto  aos  motoneurônios,  embora apresentem  conexões  com  praticamente  todas  as regiões      motoras.      Além      disso,      funcionam independentemente, já que não tem conexões mutuas.  Tem  em  comum,  entretanto,  um  circuito básico  de  retroação:  recebem  de  extensas regiões do  córtex  cerebral  e  projetam  de  volta  ao  córtex motor através do talamo. Tudo indica que é dessa “conversa”  de  mão  dupla  entre  eles  e  o  córtex cerebral que se estabelece o controle motor, isto é, que  o  sistema  nervoso  “se  assegura”  de  que  os movimentos estão sendo produzidos de acordo com as suas ordens.

Os núcleos da base são iniciadores e terminadores dos movimentos: o disparo inibitório de  seus  axônios  de  saída  para  o  talamo  seria  um “freio” permanente de movimentos indesejados. A necessidade       de       realizar       um       movimento interromperia   esse   disparo   tônico   frenador   e “liberaria”  os  comandos  motores  corticais  para  os ordenadores  subcorticais.  O  oposto  ocorreria  no final do movimento. Como os circuitos dos núcleos da base extrapolam 0 sistema motor, atualmente se considera      que      exercem      a      mesma      ação iniciadora/terminadora     sobre     comportamentos complexos também.

Fatores que Contribuem para o Fluxo Sanguíneo Cerebral

Como   na   maioria   dos   outros   tecidos,   o   fluxo sanguíneo   cerebral   é   muito   correlacionado   ao metabolismo    tecidual.    Acredita-se    que    vários fatores metabólicos contribuam para a regulação do fluxo sanguíneo cerebral:

Concentração      de      dióxido      de      carbono      e concentração de íons hidrogênio : o fluxo sanguíneo cerebral    é    aproximadamente    duplicado    com elevação  de  70%  da  pressão  parcial  de  dióxido de carbono (Pco2 arterial.)

1-   Acredita-se  que  o  dióxido  de  carbono aumente   o   fluxo   sanguíneo   cerebral, ligando-se  primeiro  à  água  nos  líquidos corporais  para  formar  ácido  carbônico que    se    dissocia    para    liberar    íons hidrogênio. Esses íons hidrogênio então provocam   a   vasodilatação   dos   vasos cerebrais — sendo essa dilatação quase diretamente  proporcional  ao  aumento da concentração de íons hidrogênio, até que       o       fluxo       sanguíneo       atinja aproximadamente  o  dobro  do  normal. Outras   substâncias   que   aumentem   a acidez do tecido cerebral e, portanto, a concentração     de     íons     hidrogênio, aumentarão  da  mesma  forma  o  fluxo sanguíneo    cerebral.    Tais    substâncias incluem  os  ácidos  lático  e  pirúvico  e qualquer outra substância ácida formada durante o metabolismo tecidual.

2-   concentração de oxigênio- Se em algum momento   o   fluxo   sanguíneo   para   o cérebro  fica  insuficiente  para  fornecer essa  quantidade  necessária  de  oxigênio (3,5 (±0,2) mililitros de oxigênio por 100 gramas de tecido cerebral por minuto), o mecanismo      de      vasodilatação      por deficiência   de   oxigênio   entra   quase imediatamente   em   ação,   deixando   o fluxo sanguíneo cerebral e o transporte de  oxigênio  para  os  tecidos  cerebrais, próximos   do   normal.   Portanto,   esse mecanismo      regulatório      do      fluxo sanguíneo  local  é  quase  exatamente  o mesmo   no   cérebro,   assim   como   nos vasos      sanguíneos      coronários,      no músculo  esquelético  e  na  maioria  das outras    áreas    vasculares    do    corpo. Experimentos      mostraram      que      a diminuição     da     pressão     parcial     de oxigênio   (Po2)   tecidual   cerebral   para menos de 30 mmHg (o valor normal é 35 a   40   mmHg)  começa  a   aumentar  de imediato   o   fluxo   sanguíneo.   Isso   é extremamente adequado, pois a função cerebral fica alterada com valores de Po2 não muito menores e, em especial, nos níveis  de  Po2  menores  que  20  mmHg. Até  mesmo  coma  pode  resultar  desses níveis      muito      baixos.      Assim,      os mecanismos  dependentes  do  oxigênio, responsáveis   pela   regulação   local   do fluxo  sanguíneo  cerebral  se  constituem em resposta protetora muito importante contra   a   atividade   neuronal   cerebral diminuída  e,  portanto,  contra  qualquer eventual     distúrbio     da      capacidade mental.

3-   substâncias   liberadas  pelos   astrócitos, células especializadas não neuronais que parecem acoplar a atividade neuronal à regulação   do   fluxo   sanguíneo   local   – Número  cada  vez  maior  de  evidências tem sugerido que o acoplamento entre a atividade  neuronal  e  o  fluxo  sanguíneo cerebral    é    devido,    em    parte,    às substâncias   liberadas   pelos   astrócitos (também  chamadas  células  astrogliais) que   cercam   os   vasos   sanguíneos   no sistema  nervoso  central.  Os  astrócitos são  células não neuronais com  formato de estrela que suportam e protegem os neurônios,     assim     como     fornecem nutrientes.   Para    eles   têm    inúmeras projeções    que    fazem    contato    com neurônios  e  os  vasos  sanguíneos  a  seu redor,  compondo  mecanismo  potencial para  a  comunicação  neurovascular.  Os astrócitos da massa cinzenta (astrócitos protoplasmáticos)       estendem       finos processos que cobrem a maior parte das sinapses     e     pés     gliais     que     estão intimamente     justapostos     à     parede vascular    Estudos    experimentais    têm mostrado que a estimulação elétrica de neurônios  excitatórios  glutamatérgicos levam aos aumentos da concentração de íons cálcio nos pés gliais de astrócitos e à vasodilatação  das arteríolas  adjacentes. Estudos   adicionais   têm   sugerido   que essa    vasodilatação    é    mediada    por diversos         metabólitos         vasoativos liberados pelos astrócitos. Apesar de os mediadores     verdadeiros     ainda     não serem   identificados,   o   óxido   nítrico, metabólitos do ácido araquidônico, íons potássio,        adenosina,        e        outras substâncias,   geradas   pelos   astrócitos, em     resposta     à     estimulação     dos neurônios  excitatórios  adjacentes,  têm sido     apontados     como     importantes mediadores da vasodilatação local.

Hipertensão X AVC

Hipertensão  arterial  é  uma  doença  crônica  que ocorre  quando  os  vasos sanguíneos  se  contraem mais do que o necessário, o que dificulta a passagem do sangue.  Quando  os  vasos estão  estreitados,  a pressão  sobe. “Por definição  médica,  o paciente  é considerado   hipertenso   quando   sua   pressão   se encontra, por vários dias, acima de 14 por 9”

O  aumento  da  pressão  arterial  pode  ser  uma  das causas    de    diversas    complicações    no    cérebro. “Quando  a  pressão  está  alta,  as  artérias  cerebrais ficam mais enrijecidas, podendo causar um AVC. A arteriosclerose  e a demência   vascular   também podem ser ocasionadas pela hipertensão. ”

Quase  todas  as  pessoas  idosas  têm  bloqueios  de algumas  pequenas  artérias  cerebrais,  e  até  10% delas  eventualmente   chegam  a  ter  bloqueios sérios o suficiente para causar perturbação grave da função   cerebral,    condição chamada  “acidente vascular cerebral”.

A maioria dos acidentes   vasculares cerebrais são ocasionados por placas    arterioescleróticas que ocorrem  em  uma  ou  mais  das  artérias  cerebrais. Essas    placas podem ativar o mecanismo de coagulação   do   sangue e o coágulo que   surge, bloqueia o  fluxo  sanguíneo  na  artéria,  levando assim,  à  perda  aguda  da  função  cerebral  em  área localizada. Em cerca de um quarto das pessoas que apresentam acidentes vasculares    cerebrais, a hipertensão  provoca  o  rompimento  de  um  vaso sanguíneo, ocorrendo então hemorragia que comprime o  tecido  cerebral  local  e  compromete  ainda  mais suas  funções.  Os  efeitos  neurológicos  do  acidente vascular  cerebral  são  determinados  pela  área  do cérebro  afetada.  Um  dos  tipos  mais  comuns  de acidente  vascular  cerebral  é  o  bloqueio  da  artéria cerebral média que abastece a porção medial de um hemisfério  do  cérebro.  Por  exemplo,  se  a  artéria cerebral média for bloqueada do lado esquerdo do cérebro,  a  pessoa  provavelmente  terá  disfunção neural séria, por causa da perda de função na área de Wernicke responsável pela compreensão da fala no hemisfério cerebral esquerdo. Ela também ficará incapaz de enunciar  palavras,  por  causa  da  perda  da  área motora de Broca responsável pela formação de palavras. Além disso,  a  perda  de  função  nas  áreas  neurais  de controle   motor   no   hemisfério   esquerdo   pode provocar   a   paralisia   espástica   da   maioria   dos músculos do lado oposto do corpo.

De forma semelhante, o bloqueio da artéria cerebral posterior  causará  o  infarto  do  polo  occipital  do hemisfério do mesmo lado, o que leva à perda de visão em ambos os olhos, na metade da retina, do   mesmo   lado   que   a   lesão.   Infartos   que envolvem o suprimento de sangue ao mesencéfalo são  especialmente  devastadores,  porque  podem bloquear  a  condução  neural  nas  principais  vias de conexão   entre   o   cérebro   e   a   medula   espinal, acarretando tanto anormalidades sensoriais quanto motoras.

Autorregulação do Fluxo Sanguíneo Cerebral X Regulação da PA

Durante as atividades diárias normais, a pressão arterial  pode   variar   muito chegando   a   níveis elevados   durante   os   estados   de   excitação   ou atividade árdua e caindo a níveis baixos durante o sono.   Entretanto, o   fluxo   sanguíneo   cerebral   é extremamente   bem “autorregulado”, entre   os limites da pressão arterial de 60 e 140 mmHg. Isto é, a   pressão   arterial   média   pode   ser   diminuída agudamente    para    valores    de    60    mmHg, ou aumentada   para   valores   de   140   mmHg, sem variação significativa do fluxo sanguíneo cerebral. Além      disso, em      pessoas      hipertensas, a autorregularão do fluxo de sangue cerebral ocorre até   mesmo   quando   a   pressão   arterial   média aumenta para valores entre 160 e 180 mmHg.  O fluxo sanguíneo cerebral medido em pacientes com pressão     sanguínea    normal     e     em     pacientes hipertensos e hipotensos. A constância extrema do fluxo sanguíneo cerebral entre os limites de 60 e 180 mmHg de pressão arterial média. Entretanto, se a pressão arterial cair para menos que 60 mmHg, então o fluxo sanguíneo cerebral fica gravemente diminuído

 

Sistema Nervoso Simpático no Controle do Fluxo Sanguíneo Cerebral

O sistema circulatório cerebral tem forte inervação simpática que se origina nos gânglios simpáticos cervicais superiores, passa pelo pescoço e depois para o tecido cerebral, acompanhando as artérias cerebrais.  Essa inervação supre tanto as grandes artérias cerebrais como as artérias menores que penetram   na   própria   substância   cerebral.   No entanto, a transecção dos nervos simpáticos ou a sua estimulação branda a moderada, em geral, provoca   poucas   variações   do   fluxo   sanguíneo cerebral, porque   o   mecanismo   autorregulatório pode prevalecer sobre os efeitos nervosos. Quando a pressão arterial média aumenta de forma aguda para  nível  excepcionalmente  alto  como  durante  o exercício extenuante, ou durante outros estados de atividade  circulatória  excessiva,  o  sistema nervoso simpático normalmente provoca vasoconstrição das artérias     cerebrais     grandes     e     de     tamanho intermediário, o suficiente para impedir que a alta pressão  chegue  aos  vasos  sanguíneos  menores  do cérebro. Esse mecanismo é importante para impedir hemorragia vascular no interior do cérebro — isto é, para impedir a ocorrência de “acidente vascular cerebral”.

Tipos de AVC

AVC isquêmico

O acidente vascular cerebral e as doenças isquêmicas do coração são as principais causas de mortes prematuras no mundo. Além das mortes prematuras, o acidente vascular cerebral constitui também uma das principais doenças que diminuem a capacidade em atividades diárias.

A ocorrência do acidente vascular cerebral está relacionada a fatores de risco, que dependem do estilo de vida e podem aumentar a probabilidade do desenvolvimento da doença.

Os tipos de acidente vascular cerebral se dividem em isquêmicos ou hemorrágicos, com base nos mecanismos determinantes isquêmicos ou da topografia predominante do insulto hemorrágico. Cerca de 80% dos casos de acidente vascular cerebral são isquêmicos e, em sua maioria, ocorre oclusão tromboembólica no território arterial correspondente à manifestação neurológica, causando redução na pressão de perfusão cerebral.

O tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico promove a recanalização arterial, dissolvendo o trombo ou o êmbolo oclusivo por trombólise química (uso sistêmico ou intra-arterial de trombolíticos) ou mecânica, ao remover coágulos com procedimentos cirúrgicos. Isso permite a restauração do fluxo sanguíneo cerebral na região de penumbra isquêmica e o consequente retorno de sua função

  • Os sintomas ocorrem subitamente e podem incluir fraqueza muscular, paralisia, perda de sensibilidade ou sensibilidade anormal de um lado   do   corpo, dificuldade   em   falar, confusão, problemas com a visão, tonturas, perda de equilíbrio e coordenação.

  • O diagnóstico    costuma    se    basear    nos sintomas e nos resultados de um exame físico e de imagens do cérebro.
  • Outros exames de diagnóstico por imagem e exames de    sangue    são    realizados   para identificar as causas do acidente vascular cerebral.
  • O tratamento   pode   incluir   medicamentos para quebrar os coágulos de sangue ou para reduzir a probabilidade de o sangue coagular e procedimentos para fisicamente remover coágulos sanguíneos, seguidos de reabilitação.
  • As medidas preventivas incluem o controle de fatores   de   risco, medicamentos   para reduzir a probabilidade de o sangue coagular e, às vezes, cirurgia ou angioplastia para abrir artérias bloqueadas.
  • Cerca de um terço das pessoas recuperam toda ou a maior parte da capacidade funcional normal após um acidente vascular cerebral isquêmico.

Causas

Um   acidente   vascular cerebral   isquêmico normalmente resulta de obstrução de uma artéria que supre sangue para o cérebro, mais   comumente   um  ramo   de   uma   das artérias carótidas internas. Consequentemente, as células do cérebro ficam privadas de   sangue. 

O AVCI pode ser classificado com base no mecanismo determinante do fenômeno isquêmico. Os mecanismos mais comuns de AVCI são a trombose de grandes vasos, a embolia de origem cardíaca e a oclusão de pequenas artérias. Caso o fenômeno isquêmico cerebral seja de menor duração e intensidade, não levando ao dano tissular irreversível, o déficit neurológico súbito será́ passageiro, geralmente com duração de poucos minutos, ao que chamamos ataque isquêmico transitório (AIT).

Caso sejam privadas de oxigênio, a maioria das células cerebrais morrem em cerca de 4 a 5 minutos.

Normalmente,  as  obstruções são coágulos sanguíneos (trombos) ou pedaços de depósitos de  gordura (ateromas,  ou  placas) devido à aterosclerose. Essas obstruções ocorrem frequentemente nas seguintes formas:

  • Ao se formar e bloquear uma artéria: Um ateroma na parede de uma artéria pode continuar a acumular material de gordura e tornar-se suficientemente     grande     para bloquear a artéria. Mesmo que a artéria não esteja completamente bloqueada, o ateroma estreita a artéria e diminui o fluxo sanguíneo através dela, assim como um cano entupido retarda o fluxo de água. O sangue lento tem maior probabilidade de coagular. Um grande coágulo pode impedir que sangue suficiente passe através da artéria estreita, provocando a morte das células cerebrais irrigadas por tal artéria ou, se um ateroma se abrir (romper), o  material dentro  dele  pode  desencadear  a formação de um coágulo de sangue que pode obstruir  a artéria.
  • Ao deslocar-se de uma outra artéria para uma artéria no cérebro: Um pedaço de um ateroma ou um coágulo de sangue na parede de uma artéria pode soltar-se e viajar através da corrente   sanguínea (tornando-se   um êmbolo). O êmbolo pode, então, se alojar em uma artéria que irriga o cérebro e obstruir o fluxo   sanguíneo   ali.   (Embolia   refere-se   à obstrução das artérias por materiais que se deslocam   através   da   corrente   sanguínea para outra parte do corpo.) É mais provável que essas obstruções ocorram em artérias já estreitadas por depósitos de gordura.
  • Ao deslocar-se do coração para o cérebro: Coágulos sanguíneos podem formar-se no coração ou em uma válvula cardíaca, particularmente nas válvulas artificiais e válvulas que foram lesionadas por infecção do revestimento do coração (endocardite).     Os acidentes vasculares cerebrais provocados por esses coágulos de sangue são mais frequentes entre as pessoas que foram recentemente submetidas a uma intervenção    cirúrgica    no    coração, que tiveram um ataque cardíaco, ou entre as que apresentam uma valvulopatia ou um ritmo  cardíaco irregular (arritmia), sobretudo uma frequência cardíaca rápida e irregular, chamada fibrilação atrial.

Coágulos: Causa do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico

Quando uma artéria que leva sangue para o cérebro fica obstruída ou bloqueada, um acidente vascular cerebral isquêmico pode ocorrer.  Artérias podem ser bloqueadas por depósitos de gordura (ateromas ou placas) devido   à   aterosclerose.   Artérias   do pescoço, especialmente    as    artérias    carótidas internas, são um local comum para ateromas.

Artérias também podem ser obstruídas por um coágulo de sangue (trombo). Os coágulos sanguíneos podem formar-se em uma placa de ateroma em uma   artéria.   Os   coágulos também podem se formar no coração de pessoas com uma doença cardíaca. Parte de um coágulo pode se soltar e viajar através da corrente sanguínea (tornando-se um êmbolo).  Ele pode, em seguida, obstruir uma artéria que fornece o sangue para o cérebro, tais como uma das artérias cerebrais.

OBS: Vários quadros clínicos, além da ruptura de um ateroma, podem   provocar ou   promover  a formação de coágulos de sangue, aumentando o risco de bloqueio por um coágulo de sangue. Eles incluem o seguinte:

Alterações  sanguíneas: Algumas  alterações, como  um  excesso  de  glóbulos  vermelhos (policitemia),  a  síndrome  antifosfolípide  e um  alto  nível  de homocisteína  no  sangue (hiper-homocisteinemia), aumentam a probabilidade de o sangue coagular. Em crianças,   a anemia falciforme pode causar acidente vascular cerebral isquêmico

•Contraceptivos orais: Tomar  contraceptivos orais,  especialmente  aqueles  com  alta  dose de estrogênio,  aumenta  o  risco  de  coágulos sanguíneos. 

coágulos

AIT

O AIT é definido como breve episódio de perda da função cerebral, devido a isquemia, que pode ser localizada em uma porção do sistema nervoso central suprida por um determinado sistema vascular (carotídeo direito ou esquerdo, ou vertebrobasilar), e para o qual não se encontra nenhuma outra causa.

Os ataques isquêmicos transitórios (AITs) comumente duram poucos minutos (de 2 a 15 minutos). Episódios abruptos, durando apenas poucos segundos, provavelmente não são AITs. Os AITs constituem uma emergência. Estão para o infarto cerebral assim como a angina instável está para o infarto agudo do miocárdio. Os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos (AVCIs) podem ser classificados, segundo o mecanismo etiológico envolvido, em: aterotrombótico, cardioembólico, lacunar, hemodinâmico e venoso. Essa diferenciação é fundamental na prevenção secundária eficiente.

Os fatores de risco mais conhecidos para AVC ou AIT são:

  • Idade (mais frequente quanto maior a idade);
  • Genética (história familiar de muitos casos de Acidente Vascular Cerebral – AVC ou doença cardíaca);
  • Tabagismo e sedentarismo;
  • Doenças como o Diabetes, aumento de colesterol ou triglicérides (dislipidemia), ter doenças cardíacas, arritmia cardíaca ou história de um infarto prévio.

Entretanto, os jovens e adultos mais jovens que não tem nada disso também podem ter um AIT ou AVC. Nestes casos (dos jovens), a pesquisa do que causou o AIT ou AVC deve ser mais detalhada.

As causas mais frequentes de AIT ou AVC em jovens são as dissecções arteriais, o forame oval patente, uso de medicações tóxicas ou drogas ilícitas, e casos de AIT ou AVC relacionados a crises de enxaqueca.

Os sinais e sintomas do AIT dependem da artéria acometida, do tamanho do território por ela vascularizado e do mecanismo fisiopatológico por trás da isquemia. Algumas características ajudam a direcionar a investigação:

  • Os AIT de origem embólica são aqueles cujos sintomas demoram mais tempo para reverter. Mais de 80% dos AIT que duram mais de 1 hora são de origem embólica.
  • Os AIT que ocorrem por baixo fluxo da artéria carótica costumam durar poucos minutos, mas podem ocorrer de forma repetida (uma vez por semana ou até várias vezes por dia).
  • Os AIT lacunares costumam demorar menos de 1 hora e também podem surgir de forma repetida. Quadros de AVC lacunar costumam ser precedidos por episódios repetidos de AIT lacunar.

 

Os sintomas possíveis do AIT são:

  • Perda de força em toda uma metade do corpo (hemiplegia).
  • Dificuldade para falar ou articular as palavras (afasia).
  • Dificuldade para entender o que os outros dizem.
  • Incapacidade de reconhecer a própria doença (anosognosia).
  • Fraqueza ou dormência da mão, braço, perna, face, língua e ou face.
  • Tontura e desequilíbrio.
  • Movimentos abruptos.
  • Visão dupla (diplopia).
  • Perda total ou parcial da visão em um dos olhos.
  • Queda da pálpebra.
  • Incapacidade de olhar para cima.
  • Súbita e intensa dor de cabeça.
  • Dificuldade para andar normalmente.
  • Perda da audição.
  • Amnésia.

AVC Hemorrágico

O acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) se caracteriza pelo sangramento em uma parte do cérebro, em consequência do rompimento de um vaso sanguíneo. Pode ocorrer para dentro do cérebro ou tronco cerebral (acidente vascular cerebral hemorrágico intraparenquimatoso) ou para dentro das meninges (hemorragia subaracnóidea).


A hemorragia intraparenquimatosa (HIP), é o subtipo mais comum de hemorragia cerebral, acometendo cerca de 15% de todos os casos de AVC.

AVC hemorrágico tem como causa, principalmente, a pressão alta descontrolada e a ruptura de um aneurisma. No entanto, também pode ser provocado por outros fatores, como:

  • Hemofilia ou outros distúrbios coagulação do sangue;
  • Ferimentos na cabeça ou no pescoço;
  • Tratamento com radiação para câncer no pescoço ou cérebro;
  • Arritmias cardíacas;
  • Doenças das válvulas cardíacas;
  • Defeitos cardíacos congênitos;
  • Vasculite (inflamação dos vasos sanguíneos), que pode ser provocada por infecções a partir de doenças como sífilis, doença de Lyme, vasculite e tuberculose;
  • Insuficiência cardíaca;
  • Infarto agudo do miocárdio.

Hemorragia Intracerebral

Uma    hemorragia    intracerebral    consiste    em sangramento  dentro  do  cérebro.  É  a  principal forma  de  AVC  hemorrágico  e  geralmente  esta associada a hipertensão arterial.

Hemorragia Subaracnóidea

Uma  hemorragia  subaracnoidea  consiste  numa hemorragia   dentro   do   espaço   subaracnoideo compreendido   entre   a   camada   interna   (pia- máter) e a camada intermediária (aracnoide) dos tecidos que envolvem o cérebro (meninges).

OBS: Quando   os   vasos   sanguíneos   do   cérebro   estão fracos,   anormais   ou   sob   pressão   incomum,   um acidente    vascular    cerebral    hemorrágico    pode ocorrer. No acidente vascular cerebral hemorrágico, pode ocorrer sangramento dentro do cérebro, como uma  hemorragia  intracerebral.  Ou  pode  ocorrer sangramento  entre  a  camada  interior  e  média  do tecido     que     cobre     o     cérebro     (no     espaço subaracnóide),         como         uma         hemorragia subaracnoidea.

inserções do cérebro

OBS: De acordo com o Ministério da Saúde, 24,8% dos brasileiros sofrem de hipertensão. Dentre esse percentual,  59%  possuem  mais  de  65  anos.  “A pressão alta é uma das maiores causas de morte por problemas cardíacos no mundo. Mas o que poucos sabem  é  que  ela  também  pode  contribuir  para diversas enfermidades no cérebro

OBS:  De  acordo  com a  Organização Mundial da Saúde,  estima-se  que  a   doença   cerebrovascular permaneça  entre  as  quatro  principais  causas  de mortalidade até o ano de 2030

OBS: Por  que  os  acidentes  vasculares  afetam apenas um lado do corpo:

-Os acidentes vasculares cerebrais, em geral, afetam apenas  um  lado  do  cérebro.  Como  os  nervos  no cérebro atravessam para o outro lado do corpo, os sintomas aparecem no lado do corpo oposto ao lado danificado do cérebro.

cruzamento de nervos

Neuroplasticidade

As células do sistema nervoso não são imutáveis, como   se   pensava   há   algum   tempo.   Muito   ao contrário, são dotadas de plasticidade. Isto significa que   os   neurônios   podem   modificar, de   modo permanente   ou   pelo   menos   prolongado, a   sua função e a sua forma, em resposta a ações do ambiente externo. A plasticidade é maior durante o desenvolvimento, e declina gradativamente, sem se extinguir, na vida adulta.  Manifesta-se de várias formas: regenerativa, axônica, sináptica, dendrítica e somática.

A    regeneração    consiste    no    recrescimento    de axônios lesados.  Ela é forte no sistema nervoso periférico, facilitada pelas células não neurais que compõem o microambiente dos tecidos do corpo, mas no sistema nervoso central é bloqueada pelas células gliais que produzem a mielina (os oligodendróeitos) e também pelos astrócitos, que produzem moléculas de diversos tipos capazes de inibir o crescimento dos axônios.

Os dendritos de neurônios sadios podem também reorganizar sua morfologia em resposta a estímulos ambientais. Essa é a plasticidade dendrítica, máxima durante os períodos críticos do desenvolvimento, que se manifesta nos troncos, ramos e espinhas dendríticas.  Nos adultos, a plasticidade dendrítica parece se restringir às espinhas dendríticas, sede estrutural da plasticidade sináptica.

Pode-se considerar que a plasticidade somática seja a capacidade de regular a proliferação ou a morte de células nervosas. Nos mamíferos, somente o SNC embrionário é dotado de capacidade proliferativa, e esta geralmente não responde   a influências do mundo exterior. No entanto, há regiões restritas do SNC adulto que mantêm a capacidade de proliferar, sendo      esse      fenômeno      possivelmente      um mecanismo adicional de plasticidade adulta

Tipos e características da Neuroplasticidade

Durante o desenvolvimento, há uma fase de grande plasticidade denominada período crítico, na qual o sistema nervoso do indivíduo é mais suscetível a transformações provocadas pelo ambiente externo.

Sua capacidade plástica diminui, ou pelo menos se modifica. Isso leva a supor, então, que a plasticidade ontogenética difere da plasticidade adulta, sendo ambas os dois grandes tipos de manifestação dessa propriedade geral do sistema nervoso.

Depois que o organismo ultrapassa essa fase e atinge a maturidade, em alguns casos, é possível identificar mudanças morfológicas resultantes das alterações        ambientais:        uma        plasticidade morfológica São novos neurônios gerados numa dada região, ou neurônios que desaparecem por morte   celular programada.   São   também   novos circuitos neurais que se formam pela alteração do trajeto de fibras nervosas, uma nova configuração da árvore dendrítica do neurônio, ou modificações no número e na forma das sinapses e das espinhas dendríticas.  No entanto, em outros casos só foi possível    identificar    correlatos    funcionais, sem alterações morfológicas evidentes: fala-se então em elasticidade     funcional, geralmente     ligada     à atividade sináptica de um determinado circuito ou um determinado grupo de neurônios.

OBS: REGENERAÇÃO E RESTAURAÇÃO FUNCIONAL

Quando um insulto ambiental incide sobre o tecido nervoso   pode   atingir   muitas   células,   mas   não necessariamente  todas,  nem  de  forma  idêntica. Dentre as atingidas, as que tiverem o corpo celular lesado    provavelmente    morrerão,    mas    as   que tiverem   apenas   os   prolongamentos   danificados podem regenerá-lo.

Regeneração Axônica

De   fato,   as   fibras   nervosas   do   SNP   são   alvo frequente    de    lesões   traumáticas,   porque    sua distribuição cobre toda a extensão do organismo.

Lesão do nervo periférico geralmente envolve fibras mielinizadas e fibras não-mielinizadas. A interrupção  do  axônio  separa-o  em  dois:  o  coto distal, situado entre a lesão e o alvo denervado (um músculo,  por  exemplo),  e  o  coto  proximal,  que permanece  conectado  ao   corpo  celular.  O  coto distal    do    axônio    degenera,    fragmentando-se gradualmente  em  pedaços  menores,  talvez  pela interrupção  do  aporte  energético  proveniente  do soma, ou mesmo por ação de fatores intrínsecos ao próprio axônio. A mielina se desorganiza e também se fragmenta. Os produtos da degeneração do coto distai  –  tanto  do  axônio  quanto  da  mielina  –  são então   rapidamente   removidos    por   células   de Schwann,    e    por    macrófagos    provenientes    da corrente sanguínea. Ao mesmo tempo, as células de Schwann   começam   a   proliferar   em   torno   das estruturas  em  degeneração  e  posteriormente  se tornam  capazes  de  fabricar  nova  mielina.  Além disso, tanto elas quanto os macrófagos começam a sintetizar fatores neurotróficos e  outras moléculas que  se  difundem  nas  redondezas,  estimulando  o crescimento    do    axônio    lesado,    assim    como produzem  também  moléculas  que  irão  compor  a matriz extracelular, como a laminina, a fibronectina e outras, todas muito propícias ao crescimento do novo axônio.

O   lado   próximal   da   lesão   também   apresenta alterações   morfológicas.   No   soma,   à   distância, aparecem    sinais    transitórios    de    sofrimento    e regeneração, com alterações da substância de Nissl (o  retículo  endoplasmático  rugoso  do  neurônio), que  se  toma  fragmentada  e  rarefeita,  tornando  o neurônio   mais   claro   e   cheio   de   vacúolos.   Os patologistas   reconhecem   esse   fenômeno   como cromatólise. Mas logo o corpo celular se recupera e, em    algumas    horas,    volta    a    apresentar    uma morfologia normal. Inicia-se então um programa de expressão gênica semelhante ao que ocorre durante o   desenvolvimento,   e   a   maquinaria   de   síntese proteica  recomeça  a  funcionar,  agora  com  maior intensidade sob estímulo dos fatores neurotróficos secretados pelas células de Schwann. Isso permite gerar   novos   componentes   de   membrana   para recompor  o  trajeto  do  axônio  lesado,  assim  como organelas  e  estruturas  do  citoesqueleto  do  novo axônio.  O coto  proximal,  então,  não degenera. Ao contrário:       a       membrana       lesada       solda-se imediatamente,    e    a   ponta    do    coto    logo    se transforma em um cone de crescimento como nos estágios ontogenéticos precoces.

neroplasticidade

Regeneração Axônica Inexistente ou Bloqueada?

A  história  de  sucesso  da  plasticidade  regenerativa das fibras nervosas periféricas não se repete no caso dos  axônios  do  SNC.  Os  primeiros  observadores perceberam  diferenças  importantes  entre  os  dois sistemas,  quanto  a  seu  potencial  regenerativo. Ao contrário   do   SNP,   a   lesão   de   axônios   centrais provoca a morte de muitos dos neurônios atingidos. Os  que  sobrevivem,  no  entanto,  não  conseguem produzir   reações   regenerativas   suficientes   para garantir o crescimento dos cotos proximais ao longo do  trajeto  original,  a  reinervação  dos  alvos  e  a recuperação funcional.

–  Os  axônios  centrais  são  capazes  de  regenerar através de longas distâncias, desde que estejam em contato   com   o   microambiente   do   SNP.   Nessas condições,   são   capazes   até   mesmo   de   formar sinapses   funcionantes   com   seus   alvos   naturais, embora limitadamente

–  O  microambiente  do  SNC,  por  outro  lado,  não favorece  o  crescimento  regenerativo  dos  axônios centrais,  que  se  interrompe  imediatamente,  logo que estes saem do SNP e penetram no SNC.

Pesquisas foram realizadas sobre os fenômenos que ocorrem  logo  após  a  lesão  de  nervos  ou  feixes centrais, e à busca dos mecanismos moleculares que promoveriam  a  inibição  do  crescimento  axônico regenerativo.   —   Verificou-se   que   ocorre   intensa cromatólise  dos  neurônios  axotomizados,  seguida de degeneração e morte de muitos deles. É que os neurônios centrais são fortemente dependentes de fatores tróficos, que lhes faltam neste caso porque no SNC, diferentemente do SNP, as células gliais que produzem  a  mielina  –  oligodendrócitos  –  não  os produzem   como   as   células   de   Schwann   e   os macrófagos.

Os cotos distais dos axônios lesados, assim como a sua  mielina,  tomam-se  tortuosos  e  fragmentados. Entretanto,   sua  remoção   do  tecido   é  lenta,  ao contrário do que ocorre no SNP, apesar da grande proliferação  dos  oligodendrócitos  e  dos  astrócitos presentes    nas    redondezas.    Surgem    também, possivelmente     provenientes     da     corrente     de crescimento. Os astrócitos se associam ao bloqueio da  regeneração,  sintetizando  moléculas  da  matriz extracelular   diferentes   das   que   as   células   de Schwann     produzem.     São     os     proteoglicanos, glicoproteínas  com  forte   ação   antirregenerativa. Resulta desse processo que a intensa proliferação e concentração  glial  nas  redondezas  da  lesão,  mais uma    matriz    extracelular    hostil,    formam    uma verdadeira    cicatriz    que    dificulta    mecânica    e quimicamente      a      progressão      dos      axônios regenerantes. Sob o efeito fortemente limitante de todos    esses    fatores,    portanto,    os    cones    de crescimento que se formam nos cotos proximais dos axônios centrais lesados não são capazes de crescer em busca dos alvos e se restringem às redondezas da lesão.

Plasticidade Axônica

A  plasticidade  axônica  de  tipo  regenerativo,  como vimos  anteriormente,  ocorre  como  resultado  de uma ação drástica do ambiente (uma lesão) sobre um axônio, e se caracteriza pelo recrescimento do coto proximal do mesmo axônio. Para esse tipo de fenômeno usa-se normalmente  o termo regeneração axônica. No entanto,   as   ações   do ambiente  podem  provocar  respostas  plásticas  de axônios não diretamente atingidos.

Para cada conjunto de axônios de uma dada espécie animal  pode-se  determinar  um  período  de  maior plasticidade,      chamado      período      crítico. A plasticidade que ocorre durante o período crítico é, então, chamada plasticidade axônica ontogenética.

Plasticidade Axônica Antogenética

A   plasticidade   ontogenética   dos   axônios   está documentada  em  alguns  casos  de  malformações congênitas  de  indivíduos  humanos,  como  ocorre com  aqueles que nascem  com defeitos ou mesmo ausência  do  corpo  caloso.  longitudinalmente  nos dois   lados   do   cérebro.   A   plasticidade   axônica ontogenética também foi demonstrada no sistema visual,  ou  seja,  no  conjunto  de  regiões  do  SNC envolvidas    com    a    percepção    de    informações luminosas que chegam à retina, utilizando modelos animais do fenômeno chamado ambliopía (falta de visão   tridimensional),  que   é   provocado  por  um desalinhamento    dos    olhos    durante    um    certo período  crítico  do  desenvolvimento.  O  calibroso feixe de fibras que liga os dois hemisférios cerebrais. Algum  mecanismo  ainda  desconhecido  impede  o cruzamento desses axônios através da linha média, durante a vida embrionária, mas as fibras nervosas mudam  seu  trajeto  para  formar  feixes  aberrantes que se dispõem longitudinalmente nos dois lados do cérebro.

OBS: Ato reflexo: reação automática do organismo a um estímulo externo. Arco reflexo: caminho que o impulso  nervoso  percorre  até  o ato  reflexo. Ato Reflexo é  uma  reação  involuntária  do  organismo e Arco  Reflexo é  a  ação  do  nervo  que  leva  ao Ato Reflexo.

Referência Bibliográfica

LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos fundamentais de neurociência.
Rio de Janeiro: Atheneu, 2004.

https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/institucional/gestao-da-qualidade/Documents/2018-11-01-protocolos/Protocolo%20Gerenciado%20de%20Acidente%20Vascular%20Cerebral/Protocolo%20AVC_VF.pdf

https://www.scielo.br/scielophp?script=sci_arttext&pid=S0103-21002016000600650&lang=pt

http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/8-3/acidente.pdf

https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/hipertensao

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa

https://www.mdsaude.com/neurologia/ataque-isquemico-transitorio/#Sintomas

https://saude.gov.br/saude-de-a-z/acidente-vascular-cerebral-avc

 

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Estudante de Medicina, Fonoaudióloga e Autora do Blog Resumos Medicina

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