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Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES): Guia Completo sobre Diagnóstico, Sintomas e Critérios de Classificação

Por ResumeAi Concursos
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Anticorpo Antinuclear (ANA) ligando-se a componentes do núcleo celular. Diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma condição que desafia pacientes e médicos devido à sua complexidade e natureza multifacetada. Compreender seus mecanismos, reconhecer seus diversos sinais e sintomas, e entender como é diagnosticado e classificado são passos cruciais para um manejo eficaz e para melhorar a qualidade de vida dos afetados. Este guia completo foi elaborado para oferecer um panorama abrangente sobre o LES, desde sua definição e causas até as nuances do diagnóstico e as diretrizes de classificação, culminando em perspectivas sobre o gerenciamento da doença. Nosso objetivo é fornecer informações claras e precisas, capacitando você com conhecimento essencial sobre essa intrigante doença autoimune.

O Que é Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)? Entendendo a Doença Autoimune

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença complexa, considerada um protótipo das doenças autoimunes. Trata-se de uma condição crônica, na qual o sistema imunológico, que normalmente nos protege contra infecções, passa a atacar as próprias células e tecidos saudáveis do corpo. Essa agressão resulta em inflamação e pode danificar uma ampla variedade de órgãos e sistemas, como a pele, articulações, rins, coração, pulmões e cérebro, caracterizando o LES como uma doença multissistêmica.

Quem o Lúpus Afeta? Um Olhar sobre a Epidemiologia

O LES não escolhe suas vítimas ao acaso, apresentando um perfil epidemiológico bem definido:

  • Predomínio Feminino: A doença é significativamente mais comum em mulheres, especialmente durante a idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos), numa proporção que pode chegar a 9-15 mulheres para cada homem afetado.
  • Fatores Étnicos: Observa-se uma maior incidência e, frequentemente, uma evolução mais grave em indivíduos afrodescendentes, asiáticos e hispânicos em comparação com caucasianos.
  • Idade de Início: Embora o pico de incidência ocorra em adultos jovens, o LES pode surgir em qualquer idade, incluindo crianças (Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil - LESj, correspondendo a cerca de 15-20% dos casos) e idosos.

As Raízes do Problema: Etiologia Multifatorial

A causa exata do LES ainda não é completamente compreendida, mas sabe-se que sua origem é multifatorial, envolvendo uma combinação de:

  • Fatores Genéticos: Existe uma predisposição genética, com certos genes tornando alguns indivíduos mais suscetíveis.
  • Fatores Hormonais: A maior prevalência em mulheres sugere um papel importante dos hormônios sexuais, como os estrogênios, que parecem estimular componentes do sistema imunológico, enquanto os androgênios podem ter um efeito parcialmente protetor.
  • Fatores Ambientais: Elementos como exposição à luz ultravioleta (sol), certas infecções e o uso de alguns medicamentos podem atuar como gatilhos em pessoas predispostas.
  • Fatores Imunológicos: Desregulações intrínsecas no sistema imune, tanto na imunidade inata quanto na adaptativa, são fundamentais.

O Ataque Interno: Mecanismos de Autoimunidade

No cerne do LES está a autoimunidade, um erro de reconhecimento do sistema imunológico que passa a produzir autoanticorpos contra componentes do próprio organismo.

1. O Papel Central dos Autoanticorpos: A produção de uma vasta gama de autoanticorpos é uma característica marcante. Esses autoanticorpos podem atacar diversas estruturas celulares, especialmente componentes do núcleo (como o DNA).

  • Anticorpos Antinucleares (FAN): Encontrados na grande maioria dos pacientes com LES, embora não sejam exclusivos da doença.
  • Anti-DNA de dupla hélice (anti-dsDNA) e Anti-Sm: São autoanticorpos mais específicos para o LES. O anti-dsDNA, por exemplo, é encontrado em cerca de 70-80% dos pacientes, e seus níveis podem se correlacionar com a atividade da doença, especialmente com o acometimento renal (nefrite lúpica).

Os autoanticorpos ligam-se a seus alvos (autoantígenos), formando imunocomplexos. Estes circulam pelo sangue e podem depositar-se em diversos tecidos, desencadeando uma resposta inflamatória local que, se persistente, leva à lesão tecidual.

2. O Sistema Complemento na Linha de Frente (e seu Consumo): O sistema complemento, parte do sistema imunológico inato, ajuda a combater infecções e a remover células mortas e imunocomplexos. No LES, é frequentemente ativado pela grande quantidade de imunocomplexos.

  • Ativação e Consumo: A deposição de imunocomplexos nos tecidos ativa o sistema complemento, levando ao consumo de suas proteínas, como C3 e C4.
  • Marcador de Atividade: Níveis baixos de C3 e C4 no sangue geralmente indicam que a doença está ativa.

Em resumo, o LES é uma doença autoimune crônica onde uma complexa interação de fatores leva o sistema imunológico a produzir autoanticorpos. Estes formam imunocomplexos que, com a participação do sistema complemento, causam inflamação e dano em múltiplos órgãos, resultando na diversidade de manifestações clínicas. Entender esses mecanismos é fundamental para o diagnóstico e tratamento.

Sintomas do Lúpus: Reconhecendo as Diversas Manifestações Clínicas

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é conhecido como "a doença das mil faces" devido à sua capacidade de se manifestar de maneiras distintas. Os sintomas podem surgir de forma gradual ou abrupta, variando de leves a graves, e afetar praticamente qualquer órgão.

Sintomas Gerais: Os Primeiros Sinais de Alerta

Muitas vezes, o LES anuncia sua chegada com sintomas mais gerais e inespecíficos:

  • Fadiga persistente e debilitante: Um dos mais comuns (80-90%), não melhorando significativamente com o repouso.
  • Febre inexplicada: Frequentemente baixa, mas persistente (41-84% dos casos).
  • Perda de peso não intencional: Observada em cerca de 27-51% dos pacientes.
  • Dores articulares (artralgia): Extremamente comuns (80-90%), muitas vezes simétricas.
  • Dores musculares (mialgia): Podem acompanhar as dores articulares.
  • Adenomegalia: Aumento dos gânglios linfáticos (cerca de metade dos pacientes).

Quando o Lúpus Atinge Órgãos Específicos

Além dos sintomas gerais, o LES pode causar manifestações específicas:

  • Pele e Mucosas (Manifestações Muco-Cutâneas): Muito frequentes (60-80% dos pacientes).

    • Rash Malar (ou "asa de borboleta"): Vermelhidão característica sobre as bochechas e o dorso do nariz.
    • Fotossensibilidade: Reação cutânea exagerada à luz solar.
    • Lúpus Discoide: Lesões avermelhadas, elevadas, em formato de disco, que podem deixar cicatrizes.
    • Alopecia: Perda de cabelo, difusa ou em placas (18-58% dos casos).
    • Úlceras orais ou nasais: Geralmente indolores.
    • Vasculite cutânea: Inflamação de pequenos vasos da pele.
  • Articulações:

    • Artrite: Inflamação articular com dor e inchaço. Tipicamente não erosiva, embora possa causar deformidades reversíveis (Artropatia de Jaccoud).
  • Rins (Nefrite Lúpica):

    • Acometimento renal grave, ocorrendo em até 50-70% dos pacientes ao longo da doença.
    • A glomerulonefrite pode levar à perda de proteína na urina (proteinúria, causando urina espumosa), sangue na urina (hematúria), inchaço (edema) e aumento da pressão arterial.
  • Sistema Nervoso (Neurolúpus):

    • Manifestações neuropsiquiátricas variadas: convulsões, psicose, Acidente Vascular Encefálico (AVE), dores de cabeça intensas, alterações de humor, dificuldades de concentração e memória.
  • Sangue (Manifestações Hematológicas):

    • Comuns as citopenias (diminuição das células sanguíneas):
      • Anemia: A mais frequente (até 80%). Pode ser anemia de doença crônica ou anemia hemolítica autoimune.
      • Leucopenia: Diminuição dos glóbulos brancos, principalmente por linfopenia.
      • Plaquetopenia (ou trombocitopenia): Diminuição das plaquetas, aumentando risco de sangramentos.
  • Coração e Pulmões:

    • Serosite: Inflamação das membranas que revestem órgãos.
      • Pericardite: Inflamação do pericárdio, a manifestação cardíaca mais comum (25-30%).
      • Pleurite (ou pleurisia): Inflamação da pleura, a manifestação pulmonar mais comum.
    • Outras: Miocardite, Endocardite de Libman-Sacks, pneumonite lúpica, hemorragia alveolar (rara, mas grave).
  • Outras Manifestações Relevantes:

    • Vasculite sistêmica: Inflamação dos vasos sanguíneos.
    • Fenômeno de Raynaud: Alteração da coloração dos dedos em resposta ao frio ou estresse.
    • Acometimento gastrointestinal: Dor abdominal, náuseas, vômitos.

A complexidade do LES reside nessa multiplicidade de sintomas. Reconhecê-los, especialmente em conjunto, é crucial para a busca por avaliação médica especializada.

Diagnóstico do LES: Exames Laboratoriais e Investigação Clínica

O diagnóstico do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é um processo que não se baseia em um único exame, mas na combinação cuidadosa de achados clínicos e resultados de exames laboratoriais, interpretados por um médico especialista, geralmente um reumatologista.

A investigação laboratorial inicia-se frequentemente com a pesquisa de Anticorpos Antinucleares (FAN).

  • FAN (Fator Antinúcleo):
    • Alta Sensibilidade: Positivo em aproximadamente 99% a 100% dos pacientes com LES, tornando um resultado negativo um forte indicativo contra a doença.
    • Critério de Entrada: Nos critérios de classificação ACR/EULAR 2019, um FAN ≥ 1:80 em células HEp-2 é obrigatório.
    • Baixa Especificidade: Um FAN positivo não é sinônimo de LES, podendo ocorrer em outras condições e em indivíduos saudáveis.

Diante de um FAN positivo e suspeita clínica, investigam-se autoanticorpos mais específicos:

  • Anti-DNA de dupla hélice (anti-dsDNA):

    • Alta Especificidade: Marcador altamente específico para LES (95-99%).
    • Sensibilidade Moderada: Encontrado em 70% a 80% dos pacientes.
    • Relevância Clínica: Seus níveis podem correlacionar-se com a atividade da doença, especialmente com a nefrite lúpica, sendo útil no monitoramento.
  • Anti-Sm (anti-Smith):

    • Alta Especificidade: Muito específico para LES (95-99%).
    • Baixa Sensibilidade: Presente em 10% a 40% dos pacientes.
    • Valor Diagnóstico: Forte indicador de LES, mas não se correlaciona com a atividade da doença.
  • Anti-Ro/SS-A e Anti-La/SS-B:

    • Anti-Ro/SS-A: Encontrado em 20% a 60% dos pacientes com LES. Associado à Síndrome de Sjögren, fotossensibilidade, lúpus cutâneo subagudo, doença pulmonar intersticial e ao lúpus neonatal. Pode estar presente em LES com FAN negativo.
    • Anti-La/SS-B: Frequentemente encontrado com o anti-Ro/SS-A.
  • Anticorpos Antifosfolípides (aPL):

    • Incluem anticoagulante lúpico, anticorpos anticardiolipina e anti-beta2-glicoproteína I.
    • Prevalência: Detectados em 40% a 50% dos pacientes com LES.
    • Critério Diagnóstico: Sua presença é um critério para classificar o LES.
    • Risco Trombótico: Associados a risco aumentado de tromboses e complicações gestacionais (Síndrome Antifosfolípide - SAF).

Outros achados laboratoriais importantes:

  • Hemograma: Pode revelar leucopenia, linfopenia, trombocitopenia ou anemia hemolítica autoimune (com teste de Coombs direto positivo).
  • Complemento Sérico: Níveis baixos de C3, C4 (ou CH50) podem indicar consumo pela atividade da doença.
  • Provas de Atividade Inflamatória: Velocidade de Hemossedimentação (VHS) geralmente elevada.

Biópsias podem ser indicadas em casos selecionados:

  • Biópsia Renal: Essencial na suspeita de nefrite lúpica. A histopatologia classifica a nefrite e orienta a terapia. Depósitos de imunoglobulinas e complemento (padrão "full house") são sugestivos.
  • Biópsia Cutânea: Realizada em lesões de pele para confirmar lúpus cutâneo.

A pesquisa de células LE é considerada ultrapassada. A jornada diagnóstica do LES exige uma análise integrada, reforçando a importância da expertise médica.

Critérios de Classificação do LES: Decifrando as Diretrizes (ACR, SLICC, EULAR/ACR)

Os critérios de classificação são ferramentas essenciais para auxiliar médicos e pesquisadores a identificar e agrupar pacientes com características semelhantes, primariamente para padronizar a inclusão em estudos clínicos. Embora úteis como guia na prática clínica, não substituem o julgamento clínico.

  1. Critérios do American College of Rheumatology (ACR) de 1997: Exigia o preenchimento de pelo menos 4 de 11 critérios:

    • Eritema malar
    • Lúpus discoide
    • Fotossensibilidade
    • Úlceras orais ou nasofaríngeas
    • Artrite não erosiva (≥2 articulações)
    • Serosite (pleurite ou pericardite)
    • Alteração renal (proteinúria >0,5g/dia ou cilindros celulares)
    • Alteração neurológica (convulsões ou psicose)
    • Alteração hematológica (anemia hemolítica, leucopenia, linfopenia, ou plaquetopenia)
    • Alteração imunológica (anti-DNA nativo, anti-Sm, ou anticorpos antifosfolípides positivos)
    • Fator Antinuclear (FAN) positivo.
  2. Critérios do Systemic Lupus International Collaborating Clinics (SLICC) de 2012: Exige:

    • Pelo menos 4 critérios (sendo ≥1 clínico e ≥1 imunológico).
    • OU nefrite lúpica comprovada por biópsia com FAN ou anti-dsDNA positivos.

    Os critérios SLICC (11 clínicos e 6 imunológicos) incluem:

    • Clínicos: Lúpus cutâneo agudo (inclui rash malar, fotossensibilidade), lúpus cutâneo crônico (ex: discoide), úlceras orais/nasais, alopecia não cicatricial, artrite (sinovite ou artralgia com rigidez matinal), serosite, renal (proteinúria ≥500mg/24h ou cilindros hemáticos), neurológico (convulsões, psicose, etc.), anemia hemolítica, leucopenia ou linfopenia, plaquetopenia.
    • Imunológicos: FAN, anti-dsDNA, anti-Sm, anticorpo antifosfolípide, complemento baixo (C3, C4, CH50), Coombs direto positivo.
  3. Critérios da European League Against Rheumatism/American College of Rheumatology (EULAR/ACR) de 2019:

    • Critério de entrada obrigatório: FAN positivo ≥ 1:80.
    • Sistema de pontuação aditivo: Se FAN positivo, avaliam-se 22 critérios em 7 domínios clínicos (constitucional, hematológico, neuropsiquiátrico, mucocutâneo, seroso, musculoesquelético, renal) e 3 imunológicos. Cada critério tem um peso.
    • Classifica-se com LES se atingir ≥10 pontos.
    • Destaques: Inclusão de febre; neuropsiquiátrico restrito a delirium, psicose e convulsões; domínios mucocutâneo (alopecia não cicatricial, úlceras orais, lúpus cutâneo subagudo/discoide, lúpus cutâneo agudo); serosite; artrite; renal (biópsia classes III/IV com maior pontuação, proteinúria); hematológico (leucopenia, plaquetopenia, anemia hemolítica autoimune); imunológico (aPL, complemento baixo C3/C4, anti-dsDNA, anti-Sm).

Exames como Proteína C-Reativa (PCR) e VHS, embora possam estar alterados, não fazem parte desses critérios. A evolução dessas diretrizes reflete o esforço para aprimorar a identificação do LES.

Diagnóstico Diferencial e Formas Específicas de Lúpus

Dada a natureza multifacetada do LES, o diagnóstico diferencial é crucial para distinguir o LES de outras condições com apresentações semelhantes.

Condições que Podem Mimetizar o LES

  • Outras Doenças do Tecido Conjuntivo (DTCs):

    • Artrite Reumatoide (AR): Tipicamente causa artrite erosiva; anti-CCP é mais específico para AR.
    • Esclerose Sistêmica (ES): Endurecimento da pele é a marca; FAN padrão centromérico é sugestivo.
    • Dermatomiosite (DM) e Polimiosite (PM): Fraqueza muscular proximal e, na DM, lesões cutâneas como heliótropo e pápulas de Gottron.
    • Síndrome de Sjögren: Sintomas secos proeminentes; anti-Ro/SSA e anti-La/SSB são característicos; acometimento renal geralmente é nefrite tubulointersticial.
    • Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC): Sobreposição de características; altos títulos de anticorpos anti-RNP.
    • Fibromialgia: Dor musculoesquelética difusa e fadiga, sem inflamação sistêmica ou autoanticorpos típicos do LES.
  • Infecções: Algumas infecções virais (parvovírus B19, hepatites, HIV) ou bacterianas (endocardite) podem mimetizar o LES.

  • Outras Condições: Em crianças, Glomerulonefrite Pós-Estreptocócica (GNPE) e Púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) podem ser confundidas.

Formas Específicas de Lúpus

  • Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil (LESJ) ou Pediátrico (LESp):

    • Início antes dos 18 anos. Tende a ter um curso clínico mais agudo e grave, com maior incidência de nefrite lúpica e acometimento do sistema nervoso central. Febre, adenomegalia e hepatoesplenomegalia são mais frequentes.
  • Lúpus Induzido por Drogas (LID):

    • Síndrome semelhante ao lúpus após exposição a medicamentos, geralmente regredindo com a suspensão do fármaco.
    • Sintomas mais brandos (artralgia, mialgia, febre, serosite). Nefrite e envolvimento do SNC são raros.
    • FAN quase sempre positivo (padrão homogêneo); anticorpos anti-histona muito frequentes (>95%); anti-dsDNA e anti-Sm são raros.

O reconhecimento dessas nuances é essencial para um manejo clínico preciso.

Gerenciando o Lúpus: Perspectivas e Cuidados Essenciais

Compreender o diagnóstico, sintomas e critérios do LES é fundamental, mas igualmente crucial é saber como gerenciar essa condição crônica. O manejo é individualizado, exigindo parceria entre paciente e equipe médica para controlar a doença, prevenir danos e melhorar a qualidade de vida.

A Importância do Manejo Individualizado e a Associação com a Síndrome Antifosfolípide (SAF)

O tratamento do LES deve ser sempre adaptado às necessidades de cada pessoa. É importante destacar a frequente associação com a Síndrome Antifosfolípide (SAF). Até 50% dos pacientes com LES podem apresentar anticorpos antifosfolípides, e parte deles pode desenvolver eventos tromboembólicos ou complicações gestacionais, caracterizando a SAF. A coexistência de LES e SAF demanda atenção redobrada no plano terapêutico e preventivo.

Pilares do Tratamento Medicamentoso

  • Antimaláricos (Hidroxicloroquina e Cloroquina): Pedra angular do tratamento, recomendados para quase todos os pacientes. Controlam manifestações cutâneas e articulares, reduzem crises, melhoram prognóstico da nefrite, têm efeito protetor cardiovascular e diminuem risco de trombose.
  • Glicocorticoides (Corticoides): Potentes anti-inflamatórios e imunossupressores (ex: prednisona), cruciais no controle de manifestações moderadas a graves. Doses variam conforme a gravidade. A pulsoterapia (altas doses intravenosas) pode ser usada em casos graves (nefrite, neurolúpus, citopenias severas). O objetivo é a menor dose eficaz pelo menor tempo.
  • Imunossupressores: (Azatioprina, micofenolato, ciclofosfamida, metotrexato) Usados em doença grave, falha aos corticoides, ou para reduzir a dose de corticoide.
  • Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs): Para alívio de sintomas articulares leves, com cautela.

A anemia de doença crônica e a alopecia não cicatricial geralmente melhoram com o controle da atividade do LES.

Cuidados Preventivos Essenciais

  • Proteção Solar Rigorosa: A exposição UV pode agravar o LES. Uso diário de protetor solar (FPS 50+), roupas protetoras e evitar sol intenso é crucial.
  • Vacinação: Pacientes com LES, especialmente imunossuprimidos, têm maior risco de infecções. Vacinas inativadas (gripe, pneumocócica) são recomendadas. Vacinas de vírus vivos atenuados são geralmente contraindicadas com doença ativa ou alta imunossupressão, mas podem ser consideradas individualmente.
  • Prevenção e Manejo de Infecções: Infecções são causa importante de morbimortalidade. Atenção a sinais de infecção e busca rápida por avaliação médica são vitais.

Considerações sobre Contracepção e Gestação

A escolha do método contraceptivo deve considerar atividade da doença, medicamentos, presença de aPL e condições associadas. Gestação em pacientes com LES em remissão e sem contraindicações é possível com planejamento e acompanhamento multidisciplinar. A terapia de reposição hormonal na menopausa é uma contraindicação relativa, absoluta em alto risco trombótico.

Uma Jornada de Acompanhamento Contínuo

O LES evolui com períodos de atividade e remissão, exigindo acompanhamento médico regular e contínuo com reumatologista para monitorar a doença, ajustar tratamento e oferecer suporte. Embora o diagnóstico traga incertezas, os avanços permitem que muitas pessoas com lúpus levem uma vida plena.


Navegar pelo universo do Lúpus Eritematoso Sistêmico pode parecer complexo, mas esperamos que este guia tenha iluminado os principais aspectos da doença, desde seus mecanismos e sintomas até as estratégias de diagnóstico e os critérios que norteiam sua classificação. O conhecimento é uma ferramenta poderosa, e entender o LES é o primeiro passo para um enfrentamento mais consciente e um manejo mais eficaz, sempre em colaboração com profissionais de saúde.

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