Depressão.

A depressão maior é definida como humor deprimido diário que perdure por um período mínimo de duas semanas. Um episódio caracteriza-se por tristeza, indiferença, apatia ou irritabilidade, em geral associadas a alterações nos padrões de sono, apetite e peso; agitação ou lentidão motora; fadiga; dificuldade de concentração e tomada de decisões; sentimentos de vergonha ou culpa; e pensamentos de morte ou de estar morrendo. Os pacientes com depressão sofrem intensamente pela perda do prazer em todas as atividades agradáveis, despertam muito cedo, sentem que o estado de humor disfórico é qualitativamente diferente da tristeza e, muitas vezes, notam variação diurna no humor (pior pela manhã). Pacientes em luto ou pesar podem apresentar muitos desses sinais e sintomas da depressão maior, embora com ênfase geralmente nas sensações de vazio e de perda, e não anedonia e perda de autoestima; além disso, a duração costuma ser menor. Entretanto, em determinados casos, o diagnóstico de depressão maior pode ser firmado mesmo no contexto de uma perda significativa.

Epidemiologia

De acordo com estudo epidemiológico a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico. De acordo com a OMS, a depressão situa-se em 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos ônus acarretados por todas as doenças durante a vida. Ocupa 1º lugar quando considerado o tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%). A época comum do aparecimento é o final da 3ª década da vida, mas pode começar em qualquer idade. Estudos mostram prevalência ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens.

Causas da depressão

  1. Genética: Estudos com famílias, gêmeos e adotados indicam a existência de um componente genético. Estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão;
  2. Bioquímica cerebral: Há evidencias de deficiência de neurotransmissores. São eles Noradrenalina, Serotonina e Dopamina que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor;
  3. Eventos vitais: Eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos naqueles que tem uma predisposição genética a desenvolver a doença.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito clinicamente por elicitação dos achados de histórico e exame do estado mental, para determinar a presença da síndrome depressiva maior. O diagnóstico diferencial inclui outros transtornos idiopáticos com episódios de depressão maior, tais como o transtorno bipolar (distinguido por um histórico de episódios maníacos) e transtorno esquizoafetivo (distinguido por um histórico de episódios psicóticos na ausência de depressão). A depressão maior pode acompanhar delirium ou demência, e depressão secundária também comumente acompanha doenças médicas graves; essas condições de comorbidade necessitam de atenção e cuidados bem-coordenados.

Tratamento

O planejamento do tratamento requer a coordenação de estratégias a curto prazo para indução da remissão combinadas à manutenção a longo prazo a fim de prevenir recorrências. A intervenção mais eficaz para remissão e prevenção de recorrências é a medicação, mas o tratamento combinado, incorporando psicoterapia para ajudar o paciente a lidar com a redução da autoestima e com o desespero, melhora o resultado. Cerca de 40% dos pacientes da atenção primária com depressão abandonam o tratamento e interrompem a medicação se a melhora sintomática não for notada no prazo de 1 mês, a menos que lhes seja dado apoio adicional. O resultado melhora com (1) o aumento da intensidade e frequência das consultas nas primeiras 4 a 6 semanas de tratamento; (2) materiais educacionais suplementares; e (3) parecer psiquiátrico, quando indicado. Apesar do uso bastante difundido dos ISRS e de outros agentes antidepressivos de segunda geração, não há evidências convincentes de que essa classe de antidepressivos seja mais eficaz do que os ADT. Entre 60 e 70% dos pacientes deprimidos respondem a qualquer fármaco escolhido, se ele for administrado em dose suficiente por 6 a 8 semanas.

As três fases de tratamento incluem (1) tratamento agudo, no qual o tratamento é fornecido para resolver o episódio depressivo maior; (2) a continuação, em que o tratamento agudo é mantido por pelo menos 4 a 8 meses para prevenir a recidiva; e (3) a manutenção, para aqueles com dois a três ou mais episódios de depressão recorrente, para os quais o tratamento é mantido por tempo indeterminado para reduzir a frequência e a gravidade de futuras recorrências. As combinações de psicoterapia e medicamentos são utilizadas para condições clínicas mais graves ou complexas.

Prognóstico

O tratamento baseado em orientação ideal para depressão maior resulta em remissão completa em pelo menos 80% dos pacientes, e a expectativa é que os pacientes com depressão retornarão ao funcionamento inicial da linha de base após a resolução dos episódios depressivos. No entanto, pelo menos 50% a 70% dos pacientes sofrem episódios recorrentes, até 20% podem apresentar depressão crônica, e muitos mais estarão em remissão incompleta com sintomas persistentes de nível mais baixo por causa de uma variedade de fatores, incluindo o acesso limitado a cuidados, a não adesão, ou tratamentos insuficientemente assertivos.

Psicopatologia

Aparência: Na depressão, o desinteresse ou a falta de energia pode inviabilizar os cuidados pessoais. Alguns deprimidos preferem vestir-se com roupas escuras.

Atitude: Na depressão, é comum uma atitude lamuriosa. Todavia, o desinteresse pode levar a uma atitude de indiferença.

Atenção: Na depressão, ocorre hipoprosexia, em função de uma falta de interesse generalizada; ou então rigidez da atenção, quando a mente se concentra em algumas ideias de conteúdo penoso.

Memória: Em função do desinteresse em relação ao mundo externo, a capacidade de fixação na depressão está reduzida. Quando a inibição psíquica é muito intensa, há também uma hipomnésia de evocação. É maior a facilidade para evocar fatos ruins, geradores de culpa (uma hipermnésia seletiva), enquanto lembranças agradáveis tornam-se raras. São comuns distorções das recordações (alomnésias), no sentido de um conteúdo de tristeza, ruína ou culpa.

 Linguagem: Tipicamente, na depressão há oligolalia ou mutismo, bradilalia, hipofonia e aumento da latência de resposta, podendo ocorrer também hipoprosódia ou aprosódia (diminuição ou perda da modulação afetiva da fala).

Pensamento: Na depressão, o pensamento está em geral alentecido. Algumas vezes temas niilistas, de culpa ou ruína, mesmo que não sejam sob a forma de um delírio, podem se tornar perseverantes.

Delírio: Na maioria dos casos de depressão, não há sintomas psicóticos. Todavia, nas depressões psicóticas, os temas delirantes mais comuns são ruína, culpa, hipocondria e negação.

Inteligência: Na depressão, a deterioração intelectiva é secundária e reversível: está relacionada ao prejuízo na atenção, à falta de motivação e à inibição do pensamento que acompanham a perturbação do afeto.

Imaginação: Na depressão, há diminuição da vivacidade da fantasia e restrição do seu conteúdo.

Conação (atividade psíquica direcionada à ação e compreende os impulsos e a vontade): Na depressão há hipobulia ou abulia (Há uma diminuição ou abolição global da conação), assim como anorexia (mais raramente aumento do apetite), insônia (mais raramente hipersonia), perda da libido e, nos casos mais graves, negativismo e ideação suicida.

Psicomotricidade: Na depressão, costuma haver hipocinesia (inibição, retardo ou alentecimento psicomotor) e, nos casos mais graves, estupor. No estupor depressivo, em geral não ocorre catalepsia (incapacidade total para mover os membros, a cabeça ou até falar), e a mímica de tristeza está presente, em contraste com a indiferença afetiva observada no estupor esquizofrênico. Nas depressões ansiosas pode haver inquietação ou agitação psicomotora.

Afetividade: Na depressão, ocorre uma tristeza patológica (exaltação afetiva), que costuma ser caracterizada como uma tristeza vital. Em alguns pacientes, podem ocorrer ansiedade ou irritabilidade intensas. O estado de humor sofre poucas variações, caracterizando assim uma rigidez afetiva.

Orientação alopsíquica: O paciente sente o tempo passar vagarosamente na depressão. Ocorre uma desorientação apática.

Consciência do eu: Na síndrome depressiva, observa-se diminuição da consciência de existência do eu, chegando à abolição na síndrome de Cotard. A depressão pode cursar também com despersonalização.

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Estudante de Medicina e Autora do Blog Resumos Medicina